Caros Boardgamers
Algumas ponderações.
Em primeiro lugar é evidente que nem o Mister Emerson e nem nenhum outro canal de board games vai fazer nenhum questionamento, por mais válido que ele seja a respeito da qualidade ou do preço dos jogos, porque se algum deles fizer isso, obviamente, eles param de receber jogos das editoras. Portanto, é no mínimo ingenuidade achar que meios de comunicação com esse tipo de vínculo serão imparciais, em relação às empresas às quais eles estão vinculados. O máximo que se pode esperar é que esses canais não se manifestem em relação aos jogos de que não gostaram. Um grande exemplo disso são os vídeos de gameplay do Jack Explicador dos jogos “Western Legends” (jogo no qual ele inclusive participou na produção) e “Waterdeep – masmorra do mago Louco”, nos quais foram usadas cópias importadas dos jogos para fazer o vídeo, porque o Jack Explicador sabe que as cópias “gringas”, dificilmente têm defeitos. Mas após o lançamento dos jogos, é claro que ele não vai usar a cópia nacional, porque aí os diversos erros vão aparecer, e ele não quer ficar mal nem com a Conclave e nem com a Galápagos. Do mesmo modo, vocês acham que algum canal vai realmente mostrar o “Enpansão” gravado na caixa da expansão de R$750,00 do Twilight Imperium, ou as cartas que vieram com erro de tradução, em uma expansão tão cara. Isso para não falar, que em um das laterais está escrito errado, mas misteriosamente nas outras laterais está escrito certo. Se isso miraculosamente acontecer, com certeza será só para jogar "panos quentes" e frisar que isso não atrapalha em nada a jogatina, mesmo tendo custado essa pequena fortuna. Por isso, a única forma de algum canal de board games manter uma absoluta imparcialidade em relação às editoras, seria se ele não recebesse nenhum jogo ou apoio dessas empresas, o que é praticamente impossível, porque ninguém vai ter o trabalho que a produção de conteúdo dá por mero amor ao esporte, alguma coisa a pessoa tem que ganhar. Portanto não espere que um canal de board game vá colocar um representante de editora "contra a parede", nem que ele vá fazer algum tipo de cobrança mais contundente, porque isso não vai acontecer. No entanto, vejam bem, não é que os produtores de conteúdo e seus respectivos canais sejam todos uns "vendidos". Muito pelo contrário, eu acredito que os produtores de conteúdo são pessoas sérias, que se dedicam ao hobby e que contribuem para caramba para ele crescer. Que atire a primeira pedra quem nunca procurou um vídeo de gameplay, antes de gastar uma grana em um board game. Talvez o erro seja considerar os canais de board games como "avaliadores", quando na verdade eles estão mais para "divulgadores" do hobby. Dessa maneira, por conta do modo como o mercado de board game "lato sensu", está estruturado, talvez o papel dos canais de board game não seja dizer se o jogo é bom ou ruim, mas sim dizer, se o produtor de conteúdo gostou ou não do jogo, e para mostrar como é que se joga. Nessa situação, faz todo sentido os canais de board games fazerem vídeos masi voltados para os jogos que eles gostaram, e com isso, e só falarem bem do jogo. O que não dá para perdoar é ver um vídeo de um jogo que, claramente, tem diversos problemas de produção, alguns deles muito graves, sendo avaliado como se fosse uma maravilha, como foi o caso dos já citados "Western Legends" e "Waterdeep - Masmorra do Mago Louco".
Em segundo lugar, eu sempre vejo as editoras virem a público para justificar os altos preços dos jogos, mas não vejo nenhuma falar em estratégias para baratear esses preços. Eu até acredito que elas corram atrás, para produzir os jogos da forma mais barata possível, mas assim o fazem para maximizar os lucros e conseguirem sobreviver. Na minha humilde opinião eu acho essa estratégia suicida, porque ao invés de trazer mais pessoas para o hobby, aumentando assim o consumo do produto, e o ganho cada vez maior na quantidade, o que se verifica é o extremo oposto, ou seja, as editoras fazem jogos cada vez mais caros, que tornam o público consumidor cada vez mais restrito, o que só agrava o problema. Experimente explicar para um amigo ou familiar, que não joga board games, que você pagou R$ 750,00, não em um jogo, mas sim em uma caixa, que serve para incrementar um jogo, que também custou R$ 750,00, para ver a reação dele. Por isso, eu acho que as editoras deveriam assumir de vez que a idéia é “gourmetizar” o hobby, então não adianta ninguém reclamar, porque preço alto não é e nem será uma preocupação para as editoras, e que se a pessoa não ganha um salário na casa dos cinco dígitos, então é melhor ela mudar para um hobby menos caro e mais acessível, ou se acostumar a ter em casa apenas jogos festivos e familiares mais baratos, e deixar para jogar os jogos médios para cima, nas luderias da vida. Essa seria uma atitude mais honesta, do que dizer: “ah o preço está caro, mas a culpa é do dólar”, ou “o preço está caro, mas vem componente para caramba”, ou ainda “o preço está caro, mas esse é o novo padrão e podem ir se acostumando a comprar menos jogos”. Se a Wizard of The Coast, que conforme reza a lenda, era uma editora nova e modesta na época (tanto que não tinha condições de lançar o RoboRally, que era a primeira opção do Richard Garfield), se ela tivesse lançado o “Magic: The Gathering” custando muito caro, porque as ilustrações eram lindas, o material de qualidade premium, e o jogo era algo novo, e que valia a pena pagar muito por ele, porque o jogo era ótimo, se essa fosse a estratégia de venda, acho que dificilmente o jogo teria se tornado o verdadeiro fenômeno que ele se tornou.
Em terceiro e último lugar, já que trazer jogos "gringos" para o mercado nacional não é possível, sem cobrar preços excessivamente altos, eu me pergunto, se não seria o caso de começar a investir em jogos nacionais. Recentemente eu comprei o “Blacksmith Brothers”, que é um jogo nacional e fiquei muito bem impressionado com o jogo, que se tivesse um tabuleiro, apenas um pouco maior (não precisava ser muita coisa a mais não), certamente ficaria no mesmo nível de diversos jogos de alocação de trabalhadores internacionais. Além destes nós temos diversos outros exemplos de jogos bons criados aqui, tais como o Dogs, o Jester, o Sheriff of Nothingham, o Masmorra dos Dados, o Quartz, entre eles, de modo que, se as editoras começassem a focar mais naquilo que nós brasileiros criamos, talvez essa fosse uma alternativa viável para não ter de produzir jogos tão caros, mantendo os jogadores menos abastados e trazendo novos jogadores para o hobby.
Para terminar, eu gostaria de lembrar que existiu um motivo para o Ford, criar a linha de produção e só vender carros pretos. Ele fez isso, porque a sua estratégia era produzir carros tão baratos, que até mesmo o trabalhador que estava montando o carro pudesse comprar um. O resto é história...
Um abraço e boas jogatinas.
Iur Buscácio
P.S. Se eu estivesse nessa live, eu juro que perguntaria para o sujeito da editora, se conforme ele disse, que os jogos estariam mais caros nesse ano de 2021 mesmo, e os consumidores teriam de comprar bem menos jogos, então se eles poderiam deixar esse a “Ilha dos Gatos” para lá e focar em outros jogos mais atraentes (porque no fundo a mensagem foi, comprem menos jogos, desde que um deles seja o da minha editora).