(Análise) As Lendas de Andor: Chada & Thorn
Título: As Lendas de Andor: Chada & Thorn (2015)
Designer: Gerhard Hecht
Arte: Michael Menzel
Editora nacional: Devir
Nº de jogadores: 2 (por ser cooperativo, dá para jogar solo também)
Um jogo para dois jogadores, cooperativo, narrativo, difícil, criativo e com uma caixa pequena. É difícil tantas características peculiares coincidirem de uma só vez, mas isso acontece em As Lendas de Andor: Chada & Thorn, um jogo um tanto esquecido pela mídia em geral e por jogadores, mas que entrega uma experiência sólida e divertida.
Critérios
Ø Arte
PRÓS: Arte incrível, inclusive com criaturas e personagens presentes dos outros jogos da série As Lendas de Andor, sem deixar de ter novidades; Iconografia de fácil entendimento; Diagramação das cartas bem simples, porém eficiente; Possui um ar elegante e sério, principalmente devido a paleta de cores e sobriedade nos elementos, compatível com a experiência proporcionada pelo jogo.
CONTRAS: Algumas cartas parecem que ficaram um pouco escuras demais, dificultando um pouco a visualização da riqueza de detalhes das ilustrações.
(Algumas cartas do jogo. Ilustração incrível!)
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Cartas de boa qualidade; Organizadr original do jogo que comporta todos componentes, inclusive com sleeves (os plastiquinhos que protegem as cartas) – e ainda sobra um pouco de espaço.
CONTRAS: Bordas pretas nas cartas! Durante a partida, as cartas não ficam nas mãos e são pouco embaralhadas, logo o uso de sleeves não é tão importante, se não fossem as famigeradas bordas pretas, que se machucam facilmente no embaralhar e mesmo no armazenamento; Existe um erro grosseiro no texto do manual que muda completamente o entendimento do jogo: No texto que explica o combate está escrito ‘atrás’ ao invés de ‘a frente’ (sim, conseguiram usar o antônimo! Tradutores, pelo-amor-da-entidade-mística-a-sua-escolha, como conseguem? Que absurdo! Fico realmente perplexo com esse tipo de coisa), ao menos o exemplo e ilustração contidos no manual estão corretos; A caixa tem uma gramatura fina;
???: Existe um item que não sei se trato como Pró ou Contra: Um personagem extra que vem no jogo, apenas a miniatura cartonada e nada mais, nem carta, nem suporte plástico, nem uma explicação direito, estando lá mais pra confundir o povo mesmo. Deixo então este carinha a critério de vocês.
(Organizador: Sim, cabe tudo (e sobra um pouco de espaço), mesmo com sleeves!)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. Lendas de Andor: Chada & Thorn é um daqueles jogos onde coloco a curva como média por ficar dividido entre ‘complexidade de regras’ e ‘dificuldade em vencer o jogo’, pois se tratando das regras, são leves e não existem muitos detalhes. Para ajudar mais ainda, ele possui uma missão tutorial, onde explica passo a passo as possibilidades e ajuda muito a entender a fluidez do jogo. Em contra partida: Que jogo difícil para se vencer! As escolhas táticas presentes exigem dos jogadores, além de um bom conhecimento das possibilidades, a prática de saber quando arriscar e quando jogar mais seguro, criando uma curva maior. Por ser um jogo que conta uma história, a dificuldade também é progressiva, ficando difícil a cada missão que se avança, sendo isso outro elemento que ajuda a balancear este aprendizado.
Ø Presença de Tema
Alta. Para quem não conhece os demais jogos da série As Lendas de Andor (que, além deste jogo da análise, consiste em três jogos base, muitas expansões e materiais extras e um jogo infantil (júnior)), eles narram uma história fantástica, com intrigas, batalhas épicas e personagens carismáticos. As Lendas de Andor: Chada & Thorn foca a aventura nos dois personagens que emprestam o nome ao título do jogo, em uma determinada parte da história geral (sem detalhes para não dar spoilers para os interessados), e o jogo faz isso muito bem ao entregar uma narrativa coesa e interessante, que consegue trazer elementos, como inimigos e recursos, provenientes de outros jogos da série. Cada missão narra um trecho da história do jogo, porém nada impede o jogador de colocar na mesa uma missão aleatória ou feita pela comunidade ou mesmo uma nova que misture trechos de outras missões (a sua conta em risco no balanceamento). Além de tudo isso, mecanicamente o jogo é bem interessante, pois a forma que as fileiras de cartas se movimentam passa uma sensação de ‘cada passo calculado’, mas sem perder o sentimento de urgência que aparece no jogo através da Maldição (a miniatura escura) no calcanhar dos personagens.

(Todos componentes do jogo)
Ø Rejogabilidade
Baixa. O jogo é difícil e vai requerer diversas tentativas para conseguir terminar o jogo, além dele se esforçar em dar um fator de aleatoriedade na criação de cada missão, através do uso de um “tabuleiro modular” formado por cartas grandes. Apesar destas características, o jogo só possui quatro missões e apesar de terem certa rejogabilidade cada uma, por existirem mais cartas de cenário do que usadas na missão, sempre pegando apenas algumas de forma aleatória para compô-la, ainda assim fica um ar de ‘poderia ter mais’, seja tendo um cuidado maior nas instruções para a comunidade criar suas próprias aventuras ou mesmo ter uma história mais longa, utilizando a mesma quantidade de cartas (que são até que bastantes) para se ter novas missões, ao invés de mais variedade da mesma missão (resumindo: Se as cartas de missão ao invés de serem de uma mesma missão fossem, por exemplo, enumeradas e uma missão pedisse: Cartas A, F, H, C, daria para se fazer muuitas mais missões variadas). Contudo, as Cartas de Névoa são bem variadas e entram poucas por partida, criando uma variabilidade de inimigos bem interessante, já que alguns demoram para aparecer entre uma partida e outra.
Ø Interação
Alta. Durante a partida, algumas ações são possíveis apenas com os personagens adjacentes, como ajudar em um combate (algo corriqueiramente necessário), porém independente disso, é preciso pensar e discutir muito durante a partida, exigindo uma interação constante entre os jogadores. Uma característica negativa é a possível presença de um alpha-player (aquele jogador que se acha sabichão e quer mandar em tudo), já que o jogo é um cooperativo com informações abertas.

(‘Tabuleiro central’ durante a partida. Maldição no encalço dos personagens)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Média. Não tem dados no jogo, porém a compra de cartas pode ser determinante no decorrer da partida. O que acontece é que existem inimigos bem fracos e outros bem fortes, e caso um muito forte apareça no momento errado, ele pode acabar com o jogo, travando uma fileira crucial e levando os jogadores à derrota. Apesar deste peso, pode ser que isso não aconteça e os jogadores só enfrentem inimigos fáceis e isso os ajude bastante. Este pequeno desbalanceamento pode ou não ser sentido, o que deixa a relevância de sorte impactar não apenas na dificuldade, mas também no sentimento de progressão do jogo, pois uma missão inicial pode se tornar impossível, assim como uma última perder o clímax por aparecerem apenas inimigos mais fracos. Não querendo dar pitaco na obra dos outros, mas acredito que deveria existir uma pré-seleção de cartas de névoa (as com inimigos) na montagem de cada cenário de acordo com os níveis de dificuldade. Claro que o jogador pode fazer isso ‘manualmente’, olhando e escolhendo as cartas que irão compor o baralho do jogo, porém isso irá tirar toda emoção da revelação surpresa de um oponente!

(Área do jogador Thorn. Cada fileira é uma possibilidade de ação!)
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Alta. O jogo As Lendas de Andor: Chada & Thorn apresenta uma mecânica em relação às cartas que acho genial e podemos, a grosso modo, lembrar vagamente grandes jogos europeus que envolvem movimentação de cartas na área do jogador, porém apesar da remota lembrança, As Lendas de Andor: Chada & Thorn consegue ser bem criativo e inovador, apesar de ser uma reimplementação de outro jogo do mesmo autor, Kashgar: Merchands of the Silk Road, este que envolve coleta e venda de recursos e bens de consumo. Além da mecânica envolvendo a gestão das cartas, temos ainda um tabuleiro quase modular, que é composto por algumas cartas grandes, que juntas formam todo o caminho a percorrer durante a missão, sendo alguns exclusivos de cada personagem, outros a escolha dos jogadores e o mais curto sempre da Maldição (pois se ela alcançar os personagens: Fim de jogo (e da pior forma!)).
Feita esta breve introdução, posso dizer seguramente: O jogo é altamente estratégico, ou seja, requer dos jogadores novas decisões todo o tempo, pois uma escolha mal feita pode ser o suficiente para um final trágico. Seja na escolha de qual fileira ativar, qual ativação da carta usará (algumas tem mais de uma possibilidade, inclusive umas chegando a ter quatro diferentes) ou qual caminho percorrer, o jogador sempre sentirá uma pressão para fazer a melhor jogada, logo espere um alto AP (Analysis Paralysis, ou ‘Parada de Análise’, aquele tempo gasto pensando no que fazer).
O jogo, apesar de tantas escolhas e da aleatoriedade dos inimigos que surgem nas cartas, ainda tem um elemento para ajudar o jogador e diminuir a dificuldade: Companheiros. Existem 4 personagens que podem ser adicionados ao jogo e servirão como ação extra aos jogadores, algo bem interessante que vai mudar não apenas a dificuldade, mas a forma que os jogadores encaram os desafios, pois cada personagem ajuda em algum sentido, seja no combate, movimentação ou mesmo coleta de um recurso usado para vários fins.
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá pra jogar sozinho? Sim, controlando ambos personagens, Chada e Thorn. Só dificulta o jogo, pois é uma cabeça pensante a menos para vencer a partida.
- Rola jogar com crianças? Pelo tema sim, pela dificuldade não tanto, pois um acaba virando um alpha-player mesmo sem querer, caso a criança não consiga acompanhar o mesmo tempo de raciocínio do jogador mais velho.
- O jogo é uma campanha? Apesar das missões seguirem uma ordem narrativa, não é uma campanha, no sentido de existir um progresso que leve itens ou melhorias de uma missão para outra. Inclusive nada impede que novas missões sejam criadas ou joguem uma missão aleatória, sem seguir a estória.
- É um card-game (jogo de cartas)? Apesar de estar escrito na caixa e ter sua mecânica principal guiada por cartas, não transmite um sentimento similar a um jogo apenas composto por cartas, pois existem miniaturas cartonadas e cartas grandes que fazem a função de tabuleiro, deixando realmente um sentimento de ‘jogo de tabuleiro maior’, mesmo que na prática seja uma versão em miniatura disso colocada na mesa.
- Existe mais material para o jogo? Existe. Em sites como Ludopedia ou BGG (BoardGameGeek) encontramos mais material para baixar e fazer em casa, mas pouca coisa, nada comparado aos outros jogos da série As Lendas de Andor (que existe muito).

Opinião Pessoal
“Um grande jogo cooperativo, com uma mistura de ameritrash e eurogame (assim como o jogo As Lendas de Andor) feita com o melhor que cada escola tem a oferecer. Com uma mecânica criativa de gestão de cartas e um formato enxuto em relação aos componentes, temos a diversão do andar e combater do ameritrash, mas sem a aleatoriedade azarada do rolar de dados, junto da profundidade tática e engrenagem mecânica requintada de um eurogame, sem o maçante empurrar de cubos. Acredito que o maior mérito do jogo é a surpresa de encontrar um jogo tão inovativo dentro de uma caixa pequena e esquecida pela mídia em geral. Quando o encanto da descoberta passa, ainda temos um jogo sólido e divertido, que será revisitado várias vezes, mesmo que tenha um bom tempo de intervalo entre as partidas, devido a sua rejogabilidade não tão grande.” (Raphael Gurian, O cavaleiro com escudo dourado)
“ As Lendas de Andor: Chada e Thorn é uma ótima opção de jogo cooperativo para dois jogadores, que tenham uma boa sinergia entre si. Apesar de contar com elementos simples como cartas, tende a ser bastante imersivo em sua história, pois exige uma boa interação entre os jogadores para trilhar o caminho e enfrentar os inimigos, evitando que ambos sejam alcançados pela "Maldição" e percam a partida instantaneamente. Este jogo possui um nível de dificuldade considerável, caso não se consiga planejar suas ações futuras de forma eficaz e montar uma boa estratégia com as cartas sob seu controle. Um diferencial interessante encontrado no jogo e que funciona muito bem é o uso de cartas dispostas em três fileiras, que aumentam as possibilidades de escolhas de ações do jogador para o seu personagem, permitindo se planejar futuramente e em conjunto com seu parceiro. As partidas tendem a variar em termos de duração devido a vários fatores como dificuldades ditadas pela própria missão, interação entre os jogadores e estratégia escolhida podendo ser mais arriscada ou mais defensiva. Uma ótima escolha para jogar em casal!.”
(Heloisa Fernandes, Lola_Fernandes, A arqueira com flechas de bronze)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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