O tremor metálico de blindados inclementes, o retumbante som dos morteiros disparando à distância, o clamor de milhares de soldados em suas trincheiras, as granadas levantando fumaça e poeira das crateras de suas explosões, caças rasgando os ares, despejando seus torpedos e espalhando o caos. Mais uma quarta-feira nevoenta na guerra onde as forças do Eixo e dos Aliados digladiam-se, sendo que no fim, apenas uma reinará suprema no Front.
Em seu mais novo trabalho, Alexander Francisco, transporta os jogadores de volta às tensas e emocionantes batalhas da segunda grande guerra. No início da partida ambos os jogadores decidem qual das forças representarão, os Aliados ou o Eixo e então escolhem qual das nações eles irão comandar, Brasil ou Estados Unidos no caso dos Aliados e Japão ou Alemanha para o Eixo. Front é um cardgame com regras simples, que esconde uma profundidade que agrada sem ser intimidante. O jogo é um melhor de três, então assim que um jogador vencer sua terceira batalha, ele ganha a partida mas não é incomum a decisão ser decidida só ao fim do último combate, quase uma morte súbita na tentativa desesperada de uma manobra de guerra vencedora.
Destaque para a pesquisa histórica refletida nos distintivos e uniformes de cada nação.
O fluxo do jogo é bem direto, abre-se uma carta de localidade que definirá quantas unidades reveladas ou não reveladas (devido à névoa de guerra) serão baixadas, então cada jogador compra 6 cartas de unidade de seu próprio baralho e, em alternância, baixa as unidades ao lado da linha de batalha. É legal ressaltar que Front foi desenvolvido para ser jogado com os oponentes posicionados lado a lado na mesa e não um de frente ao outro como geralmente acontece, o que já dá outra dinâmica à própria experiência de jogo. Com as cartas baixadas respeitando as orientações da carta de localidade, tem-se início os combates. Durante o combate, o jogador da vez anuncia com qual a unidade atacará e qual será a unidade alvo. A unidade que for mais forte vence e a derrotada vai para a pilha de honra do vencedor e em caso de empate, ambas as unidades são derrotadas indo para as pilhas de honra de ambos jogadores. O combate segue até apenas um dos jogadores ter unidades em campo ou até que alguém se renda.
Assim como o jogo anterior do Alexander, Kardnarök, Front é altamente temático. As localidades, insígnias e distintivos nos uniformes, as unidades e a quantidade das mesmas em cada nação que reflete, dado as proporções, a real composição de seus exércitos, foram baseadas em uma extensa pesquisa histórica que trazem mais imersão à partida. Até os personagens que das cartas de tática tiveram o cuidado de serem escolhidos apenas dentre aqueles que, historicamente, não foram condenados por crimes de guerra. Dessa forma não vemos figuras clichês como o General Yamashita, Mussolini ou mesmo Hitler, sendo algo no mínimo interessante e alivia um pouco o peso e a seriedade do tema, tratando-o de forma bastante respeitosa.
Setup inicial
Durante a conversa que tivemos, o Alexander contou-nos que a ideia do jogo surgiu do desejo de criar um jogo de cartas de guerra, um war cardgame nas palavras dele, feito apenas com cartas, sem nenhum outro tipo de marcadores ou componentes. Considerando a proposta do projeto, acreditamos que o objetivo tenha sido alcançado com maestria. A maneira como as cartas encaixam-se umas nas outras, conectando os símbolos e formando uma paisagem de guerra, é de uma elegância pouco vista atualmente.
Apesar das burocracias do Tabletopia, uma partida de Front dura em torno de 60 minutos, possivelmente menos dependendo do andamento dos combates e será uma excelente opção de cardgame para dois jogadores, com uma rejogabilidade alta, devido às diferentes localidades, nações e táticas. Além disso o Alexander Francisco está estudando a possibilidade de inserir partidas para quatro jogadores com cada dupla controlando uma das forças, o que há de trazer uma dinamicidade e interação muito bacana às disputas. Estamos ansiosos para ver o que o jogo há de se tornar. Ele ainda está em fase de protótipo mas muito avançado em seu desenvolvimento porém ainda não há previsão de lançamento, já que o autor ainda está envolvido com a produção do Kardnarök.
Detalhe das cartas de táticas, front e jogador inicial
Nós tivemos a oportunidade de conversar com o Alexander Francisco sobre o projeto em uma transmissão ao vivo no nosso canal da twitch durante, claro, uma partida completa. Partida, aliás, que foi decidida apenas no último ataque da última unidade, na última batalha do jogo, foi tensão até os últimos momentos! O vídeo da transmissão está no nosso youtube e pode ser conferido na íntegra abaixo!
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