HU3Brutus:: Olá Iuri,
estava realmente esperando esse tópico!
Na verdade esse jogo me incomoda tanto que eu mesmo também estava pra fazer esse tópico. Então concordo contigo em tudo. O jogo tá caro e não parece valer o quanto estão pedindo. Nesse sentido vou colocar a questão em alguns tópicos:
- Qualidade do Jogo
- Tiragem e Produção
- Mercado Recente de BG no Brasil
...
Enfim, me desculpe pelo enorme texto, mas acho realmente que estamos mimando essas editoras. Descobriram que á possível fazer design ruim e vender com arte bonita e muito marketing. Enquanto isso um clássico indiscutível, ao qual são escritos livros de aberturas como Tigris & Euphrates, fica encalhado e mesmo com uma arte e produção primorosas é vendido pela metade do preço do It’s a Wonderful World.
Obrigado por compartilhar do meu incômodo e um abraço!
Metalegit:: Eu joguei esse jogo no TTS. Antes eu estava bastante animado e com vontade de comprar. Depois vi que o tema é inexistente e não interessante. Uma pena, porque a mecânica é gostosinha e o jogo acaba sendo rapidinho. A superprodução do jogo acaba por apenas encarecê-lo. Se fosse uns 200 talvez pensasse em pegar. Vou aplicar meu dinheiro melhor.
Caro HU3Brutus
Eu pensei bastante (e por isso acabei demorando) antes de responder o seu texto, porque ele está muito bom e suscita profundas reflexões, não apenas quanto ao “It’s a Wonderful World”, mas em relação ao mercado brasileiro de board games em geral. Assim sendo, com todo o respeito, não me leve a mal, mas
PORRA ESTEVÃO!!!!!!!!
Meu camarada, eu escrevi esse tópico especificamente para que algum “abençoado” me mostrasse o que é que o raio do “It’s a Wonderful World” tem, que eu não consigo ver, e aí vem você e me mostra exatamente o que é que o jogo não tem! Parece até música do Dorival Caymmi “o que é que o jogo não tem, mecânica nova não tem, componente adequado não tem, profundidade não tem, preço baixo também nããããão tem....!!! Desse jeito, você me deixa cada vez mais convicto que minha primeira impressão estava correta, e de que esse jogo não passa de um engodo.
Obrigado, obrigado, muito, muito, mas muito obrigado mesmo, parceiro!!!!!
Brincadeiras a parte, eu concordo com tudo que você disse no seu excelente texto. Eu ainda não joguei o “It’s a Wonderful World”, e pode ser que quando eu consiga experimentá-lo, minha percepção mude, e eu ache o jogo até mesmo divertido. Mas independente disso, tudo que assisti e li até agora a respeito, só reforça a minha impressão de que o designer pegou um jogo clássico consagrado, no caso o “7 Wonders”, resolveu simplificar tudo e torná-lo mais acessível. Assim, não é preciso mais nem separar as cartas no set-up, basta abrir a caixa, montar o tabuleiro, embaralhar as cartas todas juntas, distribuir “a mão” dos jogadores, e começar a jogatina. Alguém pega uma carta do amiguinho de um lado e passa uma das suas cartas para o amiguinho do outro lado, e assim por diante. O grande problema é que com isso, o designer acabou tirando um dos pontos principais que torna o “7 Wonders” o “7 Wonders”, que é justamente a elegância, como você muito bem descreveu no texto.
Fica parecendo que alguém pegou o “Xadrez” (assim mesmo, começando com maiúscula, e destacado entre aspas, porque esse velho e distinto senhor merece todo o nosso respeito), resolveu simplificar, transformou todos os diferentes personagens em um mesmo tipo de peça, com o mesmo movimento diagonal, uma casa para frente (quando chegar na linha final a peça ganha esteróides e vira uma super-peça, com um movimento maior), depois jogou fora todas aquelas outras regrinhas chatas, que só serviam para atrapalhar. Pronto, nós temos aqui o “Damas”, que é um “Xadrez” mais moderno e mais objetivo, que é só sentar e jogar, sem precisar decorar aquele monte de regra sem sentido. Com todo respeito “às Damas”, mas esse jogo pode ser mais simples, mais fácil, mas rápido, porém, do mesmo modo que o “Jogo da Velha” não está no mesmo nível de “Damas”, este também não está, e certamente jamais estará, no mesmo nível do “Xadrez”, o que não é nenhum desdouro, mas apenas uma constatação. Eu acho que acontece a mesma coisa em relação ao “7 Wonders” e ao “It’s a Wonderful World”, e, cada vez, encontro mais motivos para pensar assim.
Veja bem, eu não tenho absolutamente nada contra jogos simples, desde que sejam divertidos, bastando dizer que meus jogos preferidos são o “Dixit” e o “Pega em 6”, que são dois primores de simplicidade, qualquer um aprende jogando, mesmo sem ter jogado antes. Além disso, falando em simplicidade, não dá para deixar de citar o Erasmo Carlos, que disse que “...se o simples fosse fácil, já teriam feito outro parabéns para você”!. O que eu sou radicalmente contra é pegar um jogo excelente, como o “7 Wonders”, reduzi-lo ao mínimo, deixar a temática quase inexistente, e depois reapresentá-lo com uma nova roupagem, como se fosse uma nova implementação do jogo original, que veio substituí-lo com toda a pompa e circunstância. Só para garantir, o designer ainda enche o jogo de cubinhos, porque assim fica mais bonito, e porque jogo bom tem de ter cubinho, caso contrário não é um euro que preste. Voilá, chegou ao mercado o “7 Wonders” killer! A cereja do bolo é que o jogo ainda por cima é vendido a um preço bem superior ao do jogo original.
Então minhas restrições não são especificamente quanto ao “It’s a Wonderful World”, até mesmo porque ainda não o joguei. Mas é no mínimo curioso, que o feedback dado, tanto por quem gostou do jogo, quanto por quem não gostou, seja no sentido de que ele é uma nova implementação simplificada do “7 Wonders”. Essa conclusão não é minha, mas sim foi retirada diretamente dos tópicos e comentários sobre o jogo. Portanto, a minha restrição é em relação ao fato do jogo ser anunciado como algo que ele não é, ou seja, um “7 Wonders” melhorado, em função da simplificação das regras. Da mesma forma, o preço do “It’s a Wonderful World” também é preço de um jogo que ele não é. Nesse sentido, o Metalegit pontuou muito bem a questão, porque se esse jogo estivesse sendo vendido por R$ 200,00, um preço mais adequado, talvez não houvesse tantas restrições a ele. Inclusive, acredito firmemente que com esse preço, mais próximo de sua realidade, o jogo venderia muito mais, e renderia muito mais dinheiro para a Galápagos.
Quanto às comparações, que podem parecer injustas, principalmente considerando o calibre de jogos como “7 Wonders”, “Azul” e até o “Splendor” (que acho inferior aos dois primeiros. mas ainda assim um jogão), tais comparações não foram minhas, mas sim retiradas de outros tópicos do “It’s a Wonderful World”. E isso é até natural, no caso do “7 Wonders”, dada a similitude das mecânicas. No caso do uso do “Terraforming Mars”, aí eu confesso a autoria do delito, mas, em minha defesa quero acrescentar que só fiz isso, para explicitar o quanto o “It’s a Wonderful World” está caro, e que outros jogos, muito superiores, podem ser comprados com o mesmo dinheiro.
Outro fator que me chamou muito a atenção, e que também foi muito bem pontuado no texto, é que ultimamente tem se verificado nos boardgames a utilização de alguns componentes, não porque sejam fundamentais para o jogo, mas sim como uma justificativa, para cobrar mais caro, como foi o caso do uso dos cubinhos do “Its a Wonderful World”. Fica parecendo que o designer inseriu os cubinhos no jogo, para que as pessoas tenham a sensação de estar jogando um “euro médio”, e assim cobrar mais caro, quando a realidade do jogo é completamente diferente.
Recentemente, em outro tópico, eu acabei me envolvendo em uma polêmica com outro jogo, que eu acho que tem muito a ver com essa questão do excesso de componentes, como justificativa para o aumento do preço. Eu não vou citar o nome do jogo, por que fui injustamente acusado de promover uma cruzada contra ele, e de estar ali apenas fazendo onda para chamar a atenção, e, definitivamente, não quero reacender uma discussão encerrada. De todo modo, eu não vou dizer aqui que o jogo era uma cópia fantasiada do “Sagrada”, porque haviam algumas sutis diferenças, mas era o mais próximo que se poderia chegar de aproveitar a mecânica do “Sagrada”, sem efetivamente copiá-lo. Além disso, o tema do jogo em questão era, digamos assim, mais festivo, que o do “Sagrada”. Eu acho até que aquele jogo deve ter o seu valor, mas o problema é que ele, além de aproveitar excessivamente a mecânica de outro jogo, o seu preço também era muito alto, na casa de R$ 350,00. A justificativa para esse preço, não era porque a licença custou caro e a editora foi obrigada a produzi-lo na China. Até porque, no caso desse jogo, a licença pertence à própria editora nacional que o lançou. O que justificava o alto preço, no entendimento da editora, foi porque, em primeiro lugar o jogo seria impresso nas mesmas fábricas dos board games internacionais, na China (o que é estranho, porque todas as editoras mundiais imprimem jogos na China porque lá é mais barato), e porque o jogo viria com 150 dados coloridos translúcidos (depois esse número inclusive aumentou para 180 dados). Eu achei o preço muito caro, porque 150 ou até mesmo 180 dados, que eram o grande diferencial do preço do jogo, mesmo que coloridos e mesmo que translúcidos, não são tão caros assim. Eu fiz uma pesquisa de preço e encontrei dados translúcidos coloridos a R$ 1,03, no varejo. Então se a empresa conseguisse obter no atacado R$ 0,50 por dado, o que já é um preço absurdamente alto para grandes quantidades, os 180 dados, que era o mais caro do jogo, sairiam por R$ 90,00 (o resto dos componentes eram meia dúzia de cartonados). Na China esse preço, para o conjunto de dados, seria ainda menor. Nesse caso a pergunta que fica é a seguinte: se a editora não teve de pagar uma licença internacional, que realmente pode sair muito caro, e se os componentes mais dispendiosos do jogo sairiam, na pior das hipóteses por R$ 90,00, o que é que estava consumindo os outros R$ 260,00 do preço do jogo? Só para se ter uma idéia, do quanto o preço era alto, uma cópia lacrada do “Sagrada” custava na época R$ 200,00 (e ainda custa). Mas o jogo tinha de ser caro mesmo, porque afinal ele seria produzido na China e teria 180 dados coloridos e translúcidos.
Antes que alguém resolva me tacar pedra por voltar a tocar nesse assunto, eu quero esclarecer que só falei nesse jogo acima, porque ele cai exatamente naquilo que foi escrito no texto, a respeito de componentes excessivos. Não há mais uma preocupação com a otimização de componentes, para baratear o custo de produção. O que se verifica hoje, e não é só apenas em relação ao “It’s a Wonderful World”, é justamente o contrário, ou seja, se inclui mais componentes (fichas, cubinhos e tabelas), mesmo que eles sejam totalmente indiferentes para a mecânica do jogo, porque assim ele fica mais vistoso na mesa, e, consequentemente, é possível elevar o seu preço a um patamar muito acima daquilo que o jogo realmente é, e daquilo que ele entrega.
Essa estratégia de preços altíssimos para tiragens pequenas, adotada como um mantra pelas editoras nacionais, em especial as “Quatro Grandes” (Galápagos, Conclave, Devir e Mepple BR) na minha opinião, já expressada em outros tópicos, é um contra-senso. Isso porque se tem uma coisa que o exemplo da ascensão da China ao status de superpotência econômica mundial é justamente que se ganha muito mais dinheiro, vendendo uma quantidade muito maior de produtos, a um preço mais baixo. Daí, não dá para entender a Galápagos preferir lançar uma tiragem menor, a um preço maior do “It’s a Wonderful World”, como acontece repetidas vezes com outros jogos e outras editoras.
Para terminar, eu quero dizer que, obviamente, ainda vou dar uma chance ao “acusado” de se defender, ou seja, certamente vou experimentar o jogo quando tiver chance. Mas, por tudo que já foi dito, tanto nesse tópico, quanto em alguns outros, já dá para chegar à conclusão de que o jogo pode ser até divertido na sua rapidez, simplicidade e fluidez, mas certamente ele não é páreo, nem de longe, para o “7 Wonders”, e certamente não vale o seu preço de mercado. Melhor esperar pela Black Friday desse ano, e (Deus Me Livre e Guarde, Te Esconjuro, Vade Retro Satanás), comprar algum produto anti-mofo.
Um abraço.
Iuri Buscácio
P.S. Ver jogos que serão lançados hoje, e esquecidos amanhã, custando quase três vezes o preço do “Tigre e Eufrates”, um verdadeiro clássico, é realmente de cortar o coração.
P.S.2 (segundo post scriptum, e não o videogame – se o LuisPerdomo pode, eu posso também!!!!!) HU3Brutus, se desculpar comigo por texto grande, é no mínimo, no mínimo, uma provocação, meu camarada HAHAHAHA!!!!! Você só pode estar de brincadeira. Mais uma vez, parabéns pelo seu texto.