Hanabi é atualmente o top 2 da minha vida.
Eu incondicionalmente amo esse jogo, sobretudo depois do dia que eu vi a luz. No post contido neste hyperlink eu explico melhor que processo de esclarecimento foi esse. Para quem está mais ambientado ao modo hardcore desse jogo, eu simplesmente descobri o que são as convenções. Se você não faz ideia do que estou falando, recomendo dar uma lida no outro texto antes de continuar esta leitura. Sou um forte entusiasta do uso de convenções nesse jogo, mas isso vai ficar para outro tópico que pretendo explorar mais para frente.
Hoje estou aqui para mostrar como se deve fazer a sequência de um jogo. Senhoras e senhores, eu vos apresento, Hanabi: Grands Feux.
Hanabi: Grands Feux é uma nova versão do clássico Hanabi. Além de toda uma repaginação nos componentes, o que particularmente considero mais importante nessa edição são os módulos.
Essa versão do jogo, além dos componentes originais numa versão
deluxe e uns extras, como você pode ver na imagem a seguir, vem com alguns módulos que mudam completamente a forma como um jogador experiente enxerga esse jogo. São eles:
- Avalanche of colors
- Black powder
- 5 flamboyants
Ao explicar os módulos, eu vou considerar aqui que você já está familiarizado com o jogo original.
- Avalanche of colors já é conhecida da versão clássica. Estamos falando daquelas cartas multicoloridas, em que se você der uma dica relativa a uma cor, todas as cartas desse tipo também serão sempre consideradas. Até aqui, nada novo. Vamos ao próximo.
- Black powder. Essa aqui, jovem, essa é a razão que me levou a escrever esse texto, mesmo que de forma improvisada. A palavra precisa ser espalhada, jovens, esse jogo é maravilhoso (
review totalmente imparcial aqui, como vocês podem notar). Assim que se deve fazer um novo módulo ou expansão, meus caros jovens. São 10 cartas como as outras cores, mas com dois
twists:
1) Diferentemente das outras cores, essa cor não pode ser nomeada.
2) A sequência acontece de forma invertida, isto é, começa no 5 e termina no 1.
Sim, jovem, você não leu errado. Todas as outras cores começam no 1 e terminam no 5 e essa segue uma lógica reversa, se comparada às demais. As outras cores possuem três cópias da carta de número 1, duas cópias de cada carta do 2 ao 4 e apenas um cópia do número 5. As cartas desse módulo também seguem uma proporção invertida: são três cópias da carta 5, duas cópias de cada carta do 4 ao 2 e apenas uma cópia do número 1.
Não tem nenhuma regra mirabolante aí. É isso, em duas linhas, você já entendeu do que se trata: não pode nomear aquela cor e as cartas são jogadas do 5 ao 1. E com apenas 2 linhas, o jogo muda completamente sem perder a sua essência.
Na prática, tudo aquilo que você estava acostumado a fazer, incluindo as convenções, precisa ser cuidadosamente repensado. Normalmente, as cartas de número 5 são para o final do jogo, elas devem ser preservadas. Uma dica direcionada a cartas de número 5 no começo de um jogo normal sugere que aquela carta não pode ser descartada até o seu devido momento de ser jogada. Muito bem, mas e se, entre elas, tem um 5 que eu quero jogar logo de cara? Como eu faço para sinalizar para meus companheiros de jogo que
aquele 5 em particular é o que deve ir para a mesa de primeira? É simples! Basta dar uma dica de cor para ele e...
Ah não, péra...
Exatamente, jovem. Mudou tudo, mas ainda é o mesmo jogo, a mesma essência, mas com um
plot twist. A leitura de mesa agora requer muito mais atenção, até mesmo por parte dos jogadores mais experientes. Isso porque eu não falei do número 1. Novamente, é o mesmo raciocínio, só que invertido. As cartas de número 1 devem ser jogadas de primeira, mas e se uma delas eu quero que fique na sua mão até o final? Sendo que eu nem posso apontar a cor dela.
Eu já joguei algumas vezes e não é tão impossível assim de jogar. Consegui fazer a pontuação máxima um par de vezes. A pontuação, que agora começa no -5, e vai até o 30. Esse módulo é extremamente desafiador, proporciona uma série de momentos interessantíssimos que te fazem parar e pensar seriamente nos seus próximos movimentos. A sensação de
timing que eu tenho com esse jogo às vezes é próxima ao que eu sinto no xadrez, sem exagero. A massa cinzenta fica a todo vapor: "se eu der essa dica, ele vai pensar dessa forma, o outro jogador vai ver onde estou querendo chegar e vai jogar aquela carta, depois disso, ainda teremos duas dicas, que podem ser usadas para aquela próxima carta...".
Finalmente, mas não menos importante, o terceiro módulo:
- 5 flamboyants
No jogo normal, quando você completa uma sequência, do 1 ao 5 daquela cor, você ganha uma ficha de dica de graça. Isso é muito bom, pois todos sabemos que as dicas nesse jogo são escassas, mas esse módulo te dá opções mais interessantes. E se eu te disser que, ao invés de uma dica, você pode pegar uma carta que já foi descartada e devolvê-la para o baralho? Mais ainda, e se você pudesse pegar essa carta do descarte e jogá-la de graça na hora?
Alguns jogadores mais puristas não gostam muito dessa variante porque eles acham que o jogo ficou fácil demais. Bom, nesse caso, a solução é muito simples, basta não usar esse módulo.
A princípio, ofuscado pela revolução contida no módulo Black powder, confesso que não me chamou muito a atenção, mas hoje eu prefiro jogar com todos os módulos. Black powder deixa o jogo muito mais desafiador e, por mais que os jogadores sejam muito experientes, ainda assim, a sorte pode jogar contra, às vezes e, como a missão fica bem mais complexa com essa adição, nadar, nadar e morrer na praia pode ser bem frustrante. Ter em mente que, mesmo que você descarte uma carta crítica para gabaritar o jogo, ainda há a possibilidade de recuperá-la é reconfortante.
Antes, Hanabi era "Oh, meu Deus! Descartamos o segundo 3 daquela cor! Essa sequência não fecha mais...". Com esse módulo, isso se torna "Ok, descartamos uma carta crítica, mas ainda podemos recuperá-la.". As decisões estratégicas continuam bastante complexas, sem ter aquela impressão que o jogo está te dando uma colher de chá. Não se deixem enganar, mesmo que você jogue o jogo básico com esse último módulo apenas, ele ainda não é um jogo trivial.
Esses módulos permitem com que você possa ajustar a dificuldade do jogo gradualmente. Tá muito fácil? Coloque as cartas coloridas. Ainda tá fácil? Coloque também as cartas pretas, ou apenas troque as coloridas pelas pretas. Ficou difícil demais? Coloque os flamboyants... e assim vai.
Essa edição do jogo é o equivalente ao que eu senti quando eu descobri que havia convenções, e que o jogo era muito mais complexo do que a sua aparente inocência sugere.
Vamos aos prós e contras:
Prós:
- Você pode experimentá-lo de graça no
Boardgame Arena (caso esteja acostumado ao
layout original, você pode mudá-lo na parte de preferências no canto superior direito da tela de jogo).
- Aumenta exponencialmente a vida útil do jogo (a quem estou enganando? Eu vou jogar esse jogo para sempre!).
- Componentes de alta qualidade, sobretudo as fichas e a adição dos porta-cartas.
Contras:
- No momento em que escrevo este texto, só vende na França (imagine minha ansiedade, jovem. Por mais que eu ame esse jogo, ele não vale seu preço + frete em euros + taxas).
- O formato das novas cartas é horrível em termo de
sleeves, que ainda não existem para essas medidas em particular. Indústria de jogos, apenas pare de criar novos formatos de cartas. Não precisamos disso, já estamos bem servidos. Hanabi é definitivamente um jogo que precisa de
sleeves. Uma carta marcada pode estragar a experiência.
Meu veredito: PaperGames, tragam esse jogo para o Brasil, por favor!!! Nunca te pedi nada. Bucaneiros, façam um
sleeve customizado para esse jogo na sequência. Nunca te pedi nada².
Momento
fanboy [off]
Até a próxima, jovens.
Forte abraço,
Luis Perdomo