Dominion é discutivelmente o pai do deckbuilder, mas não vamos entrar nessa discussão hoje.
Se você não sabe o que é um deckbuilder, meu caro moleque juvenil, saia do meu post agora vou lhe conceder uma breve explanação.
Você começa sua partida com um baralho, normalmente pequeno e com cartas fracas.
Na sua vez, você compra uma mão de cartas.
Essas cartas permitem com que você possa adquirir novas cartas.
Novas cartas adquiridas vão para uma pilha de descarte, juntamente com as cartas daquela mão inicial.
Você compra novas cartas e repete o processo.
Mas Luis, e se o baralho acaba? 
Aí, jovem, magic f***ing happens!
Se o baralho acaba, juvenildo, você o reembaralha juntamente com aquelas novas cartas que você comprou e agora você vai poder abrir
uma nova mão com cartas cada vez mais poderosas (uhh).
E isso, jovial, é mais viciante que cocada.
Você começa com cobre...
... mas e se eu te disser que você pode ter ouro...
(ou platina)
Em um turno normal de Dominion, você abre sua mão inicial, pode jogar uma ação e então comprar uma carta, que vai fortalecer o seu baralho.
Eu falei
uma ação?
Sim, pequeno moleque juvenil, uma das coisas mais satisfatórias de se jogar Dominion, além de montar seu lindo deck no melhor estilo
gotta catch 'em all é jogar todas essas cartas e fazer combos megalomaníacos.
"E com esse combo, eu compro uma prata"
A satisfação de se encher a mesa a cada turno como uma boa e velha enxurrada de popups.
Ahhh.....
Parece que você está protagonizando uma daquelas cenas de
Yugioh onde milagrosamente você consegue tirar um combo do C
oração das cartas e salvar o mundo no final.
Mas às vezes você não quer soltar uma metralhadora de cartas na cara do seu jovem coleguinha jovem e está satisfeito com a eficiência. Menos é mais. Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais (Ah, muito legal, agora eu vou ficar com a musiquinha na cabeça)
Nesse caso, jovem, você precisa de
fé. Digo, de uma capela.
Eu disse lá em cima que você começa com um baralho ruim, fraco, meh.
Também disse que, apesar de comprar cartas novas, mais fortes e mais legais, quando seu baralho acaba, você reembaralha tudo de novo e reabre uma nova mão inicial, potencialmente com as cartas bacanudas.
Maassss.........
Você reembaralha o baralho
toto, shófem. Significa que as cartas chumbrecas voltam também pra encher linguiça.
Ah, Luis, mas isso eu não quero, não curti.
Worry not, youngster.
Aqui adentramos no conceito de trash, do português, lixo, do espanhol, basura, do mandarim...
Já entendemos, Luis...

Existe uma outra
camada, que vai além do seu baralho, pilha de descartes, cartas na mão ou área de jogo. Este é o lixo. As cartas que para lá vão, não voltam para o seu deck quando você reembaralha. Em outras palavras, só a
nata da nata no seu deck.
Pronto, agora que você já foi devidamente introduzido aos principais conceitos do jogo, você está pronto para ser contemplado com meu combo favorito do meu deckbuilder favorito.
Vocês estão prontas, crianças?
Estamos, capitão!
Eu não ouvi direitoo...
Você precisa de ajuda, cara...

Ahem, voltando.
Meu combo favorito do jogo base consiste das seguintes cartas:
Você constrói um deck basicamente montado por essas cartas numa proporção equilibrada.
Seu deck literalmente consiste de 3 cartas: essas duas de cima e pontos de vitória (sério, se você já leu um ou dois textos meus, você já sabia que uma hora ou outra esse momento chegaria)
Pontos de vitória nesse jogo são intrigantes porque eles são um mal necessário. Eles são o objetivo final do jogo, afinal, como TUDO nessa vida, quem tem mais pontos de vitória vence (é só isso que importa no final das contas), mas o problema é que eles não fazem nada além de ocupar espaço inútil no meio do jogo. Isso mesmo que você entendeu, juventude, quanto mais pontos você tem na sua mão, mais peso morto você tem no seu deck. Você precisa deles no final do jogo, mas eles empobrecem seu deck.
Particularmente falando, em termos de design, creio que essa sacada do mecanismo de catch up (quando quem está atrás tem mais chances de alcançar o jovem colega que está na frente na partida) é genial. O jovem que tem mais pontos tecnicamente está ganhando, mas, ao mesmo tempo, seu baralho é pior, se tratando do fator eficiência, porque ele tem mais cartas "mortas" que só servirão ao final da partida.
Voltemos ao combo master blaster.
O Sentinela (Sentry) produz um efeito e lhe devolve uma ação quando você o joga. Ou seja, em termos de ação por turno, ele desceu redondo de graça porque a princípio você pode jogar uma ação por turno e ele, além de ter um efeito, lhe recompensa com outra ação. Dentro dessa ação, temos a palavra mágica trash. Com essa habilidade de jogar no lixo, você vai tirar tuto do seu deck.
Tudo?
Tutto*.
*menos as três cartas que você precisa, obviamente.
Legal, depois de ter um deck que só tem essas cartas, o passo a passo é o seguinte:
Você abre de Sentinela, compra uma carta, ganha uma ação, olha as duas cartas do topo do deck e reorganiza como quiser. Você não precisa mais jogar nada no lixo, mas você pode descartar o que você não quer na sua mão, mas que ainda quer no seu deck ao final do jogo para ser devidamente contabilizado. De forma mais simples: descarte os pontos de vitória para não tê-los na sua mão.
Mas e se naquela compra inicial eu comprei o ponto de vitória inútil??
Não corta o meu barato, jovem!
Ahem...
Você vai reorganizar o topo de modo que nele tenha outra ação, ou um Vassalo (Vassal) ou outro Sentinela. Então você joga um Vassalo e a cascata de popups começa. O Vassalo conta como 2 dinheiros e revela a carta do topo, se ela for uma ação, você a joga de graça, se não, você a descarta. Você já deve ter sacado a malandragem. Se for outro Vassalo, ele engatilha de novo, se for outro Sentinela, você continua manipulando seu baralho para continuar comprando o que você quer e limpando o caminho, sendo que você ainda ganha mais uma ação de graça e bingo!
Executado de forma ótima, você recicla seu deck toda rodada e cada uma delas é mais uma Província (Province) no seu deck a ser contabilizada no final do jogo.
A Província é a carta de maior valor no jogo base e o jogo termina quando a pilha de províncias acaba no mercado ou três pilhas de cartas disponíveis para compra terminam. Ao final do jogo, quem tiver mais pontos no baralho vence (como tudo nessa vida, D'oh).
O combo é perfeito? Óbvio que não. Se algo assim existisse, não teria graça jogá-lo, seria só fazer o mesmo toda hora e quem fizer primeiro ou melhor, vence. A graça do jogo é justamente essa flexibilidade que ele te dá. Esse jogo é absurdamente modular, com as expansões então...
Se você leu até aqui, vamos aos prós e contras:
Pontos positivos:
- Altíssima rejogabilidade, sobretudo com as expansões
- Jogo muito simples de ensinar
- Partidas relativamente rápidas
- O jogo proporciona decisões e momentos interessantes
- É um jogo honesto, reto e sem firulas (muitos outros deckbuilders adicionaram vários outras mecânicas à composição final do jogo. Se você gosta de deckbuilder deckbuilder simplesmente, esse é o seu jogo)
- Você pode testar o jogo base de graça no site do próprio fabricante (https://dominion.games/)
Pontos negativos:
- Multiplayer solitário (cada um no seu quadrado, salvo as cartas de ataque)
- Pode ter elementos de interação negativa direta (Take that, ou "toma essa") (jogadores experientes lidam melhor com esse fenômeno)
- Possui influência da sorte (ainda que a ideia do jogo seja justamente mitigá-la)
- Se você não gosta de embaralhar, não compre esse jogo
- Sleeves são praticamente obrigatórios para esse jogo e são muitos (500 só no base)
- Tirando a primeira, até o momento desta postagem, todas as outras expansões ainda não foram fabricadas no Brasil
- A mecânica do jogo é muito mais forte do que o tema (se você já leu meus textos, você sabe que pra mim isso não muda em nada, mas para algumas pessoas isso pode ser um diferencial à parte e que por isso deve ser mencionado)
Dominion é meu deckbuilder favorito e nenhum desses pontos negativos particularmente me incomoda, mas preciso ser realista contigo e prepará-lo para eventuais frustrações que você pode encontrar ao adquirir o jogo, caso você não goste de algumas dessas coisas.
Só pra te dar uma ideia, é o jogo que eu mais joguei na vida. Estimo que eu o tenha jogado pelo menos umas mil vezes (a maior parte delas na internet e com o jogo base).
Obrigado pela leitura.
Canal do Luis Perdomo.
Análises sérias com imagens não tão sérias assim.