Altiplano – Alpacas me mordam!
Título: Altiplano (2017)
Designer: Reiner Stockhausen
Arte: Klemens Franz
Editora nacional: Meeple BR
Nº de jogadores: 2 a 5
No alto das montanhas bolivianas e peruanas existe um povo humilde e trabalhador, com uma rica cultura. Nós fazemos parte dessa população e devemos planejar e viajar pelas montanhas, florestas e lagos para buscar nosso sustento. Altiplano é um jogo onde iremos coletar itens e usa-los para realizarmos ações, mas muito mais do que um jogo de bagbuilding (Construção de Saco, onde colocamos as fichinhas num saquinho e tiramos na sorte), Altiplano é um jogo de planejamento, onde temos que ter uma boa visão do futuro, caso contrário ficaremos apenas passeando pelas belas paisagens sul-americanas (e isso não ganha jogo!).
Critérios
Ø Arte
Certamente Klemens Franz (ilustrador) sabia o que estava fazendo. Alguém que já viajou ou pelo menos conhece um pouco da cultura dos povos latinos pelas redondezas dos Andes irá identificar de primeira as texturas e cores utilizadas em Altiplano. Aliado a isso, ainda temos um teor cartunesco na representação das pessoas e na iconografia que funcionou muito bem com a divertida e colorida paleta de cores utilizada, todos bem característicos do ilustrador.
O jogo não possui um tabuleiro central, ao invés disso ele possui 7 (sete) locais separados, cada um com suas ações respectivas e isso é muito funcional, uma vez que nos movemos entre os locais e o setup dessa forma fica sempre variado de uma partida para outra. Além disso, ainda temos 2 (dois) tabuleiros de jogador, um que serve como um depósito (onde colocamos as fichas que não queremos mais e as fazemos valer pontos extras no final da partida) e o outro que serve como local onde alocamos nossas fichas e programamos nossas ações. Este segundo tabuleiro, numa primeira impressão, parece bem poluído, mas na verdade ele é extremamente funcional, tendo todos custos e ações possíveis bem identificados.
Altiplano é livre de textos e toda sua iconografia é de simples entendimento, pois basicamente o jogo trabalha com conversões de recursos, do tipo “duas comidas por uma madeira”.
[ partida em andamento ]
Ø Qualidade dos Componentes
De uma forma geral são MUITOS componentes. Somente citando as fichas de mercadorias, são um total de 259 (exato: Duzentos e cinquenta e nove!) entre 13 itens diferentes. Altiplano ainda conta com cartas, outros elementos de papelão e saquinhos de pano.
Existem alguns marcadores de madeira de boa qualidade. As cartas também tem uma qualidade padrão e aqueles que não são fãs de colocar sleeves (sim, existem!) não precisam se preocupar, pois essas cartas são embaralhadas no início do jogo e não ficam na mão dos jogadores, além de todas terem bordas brancas o que dificulta ficarem marcadas.
O jogo tem muitos itens de papelão, desde mercadorias (já citei acima a quantidade absurda de fichas) aos tabuleiros individuais e de locais, melhorias (extensões), profissões (personagens para diferenciar cada jogador) e até mesmo alguns caixotes nas cores dos jogadores que servem para organizar nossa área de jogo (é onde fica o descarte) e uma simpática alpaca, semelhante à da imagem da caixa, todos eles de uma excelente gramatura. A única crítica mesmo, é que as fichas são um tanto pequenas, porém dá pra entender os motivos: A alta quantidade e até a dificuldade de armazenamento se fossem maiores. Em contra partida, os saquinhos que acompanham o jogo são IMENSOS para sua finalidade. Daria para ter seus tamanhos reduzidos em pelo menos um terço que ainda seriam totalmente funcionais, fora que o fato de serem totalmente pretos é beeem sem graça, ainda mais o jogo tendo uma paleta de cores tão viva em todos outros elementos.
O manual é de boa qualidade gráfica, com muito texto, mas bastante ilustrações e ricos em exemplos. A caixa é de excelente qualidade e comporta tudo, mas fica bem recheada (aconselho aqui aqueles organizadores plásticos que achamos em casas de utilidades domésticas, caso você não seja muito fã de dezenas de ziplocks).
Uma observação importante é o setup do jogo que é demorado. São muitas fichas que ficam em locais diferentes e em quantidades específicas para o número de jogadores, porém se todos na mesa ajudarem, rapidinho está tudo pronto, mas ainda assim recomendo guardar as fichas já separadas por tipo.
[ Alguns componentes ]
Ø Curva de Aprendizagem
Não se engane com as regras fáceis que você ensina em 5 minutos: Saber jogar bem é difícil. Altiplano é um jogo super simples: Pega suas fichinhas na sacola, as aloca no seu tabuleiro, anda com o peãozinho, descarta/usa as fichas programadas e pega o que ela der. Fácil, né? Sim, porém, esse “aloca no seu tabuleiro” que é o complicado, pois temos muitas opções e todas no início do jogo tem uma mesma importância: Pego madeira? Pego Pedra? Vou pegar comida que é importante, mas não vale quase ponto nenhum?
Altiplano é um jogo, como falei no começo do texto, de planejamento, então conhecer bem as ações e conseguir ter uma visão futura é essencial, dessa forma, nas primeiras partidas será bem comum o pessoal falar algo como “Vish, o que eu faço? Onde é pra ir?”, ocasionando um AP (de Analysis Paralysis – um processo de reflexão de decisões) elevado (mas não se assustem, pois quando pegarem o jeito, flui que é uma beleza!).
Ø Presença de Tema
A palavra ‘altiplano’ se refere à região andina onde o jogo se situa (vou deixar ai embaixo onde fica!), e além do nome, sentimos o tema em todos aspectos artísticos do jogo. Mecanicamente, o tema faz presença ao nos colocarmos no papel de um morador da região que viaja por toda área realizando tarefas como pescar no lago Titicaca, fazer negócios na vila local ou mesmo criar alpacas (não são lhamas!), e como tal, precisamos calcular e planejar bem nossas viagens, caso contrário viajamos à toa e perdemos tempo (e pontos). Além disso tudo, acho muito bacana vermos uma região da América do Sul representada em um jogo de tabuleiro europeu de uma forma respeitosa e que representa bem a cultura local. Isso já é um ponto positivo.
Ø Rejogabilidade
Altiplano tem muitos elementos que vão variar cada partida, como locais em disposições diferentes (que influenciam no movimento), um mercado de peças de melhorias/extensões que abre em ordem sorteada, profissões individuais para os jogadores (que dão uma ação extra diferente para cada um). Fora isso, ainda temos o sistema de sacolinha, onde as fichas que pegamos da sacola vem de forma aleatória (o que pesa mais da metade do jogo para frente, quando a sacolinha tiver mais cheia), o que nos faz sempre tentar “resolver” cada rodada da forma mais eficiente possível, dando a Altiplano um alto fator de rejogabilidade.
Ø Interação
Baixa. A interação que existe no jogo consiste apenas em jogadores pegarem cartas antes dos outros ou esgotarem as pilhas de mercadorias, não existindo nenhum tipo de interação direta, nem sequer quando os peões compartilham de um mesmo espaço.
Esse é o tipo de jogo que cria polêmica justamente devido a esse critério, pois depende muito do perfil da mesa: Uns amam jogos mais solitários, outros detestam. Uma coisa que é sempre comentada sobre esse jogo é que ele sofre bastante com downtime (um tempo de espera entre jogadas do mesmo jogador), principalmente jogando em um número elevado de pessoas. Eu, particularmente, nunca sofri com downtime, principalmente pois as ações de planejamento são feitas em tempo simultâneo – contudo nas mesas que costumo jogar todos tem um tempo de planejamento relativamente parecido.
Ø Fator Sorte
A sorte no jogo é relativamente baixa, afinal ela está presente apenas na ordem que algumas peças de melhoria/extensão aparecem, uma vez que na compra das cartas escolhemos do monte a que desejamos e a sorte na retirada de fichas no saco é presente, mas como nós temos total controle sobre o que colocamos lá, então conseguimos ter uma boa noção sobre o percentual de chances do que tiramos da sacola, sendo mais culpa nossa se algum item desejado não sair com a frequência que queríamos.
Ø Fator Estratégia
Alto, bem alto, no alto da montanha. Todas ações do jogo praticamente ocorrem por escolhas (ou culpa) nossa. O jogo é quase um quebra-cabeça sobre otimização de recursos e escolhas. Tomar uma ação que te deu uma mercadoria que não vai ser útil a longo prazo é penoso, pois te ocupa espaços de alocação no futuro, e isso que faz de Altiplano um jogo um tanto complexo (3.32/5 em complexidade no ranking do BGG), principalmente no início, mas bem recompensador se você é daqueles que adoram um desafio mais ‘cabeça’.
Opinião Pessoal
“Não preciso dizer que amo esse jogo. Sua arte cativante e fofa, aliada a uma mecânica que nos desafia a fazer escolhas a cada rodada fazem dele um excelente jogo que nunca sairá de minha coleção. Jogo muito em dois jogadores e acho Altiplano incrível para isso, principalmente quando jogado em casais ou amigos que gostam de conversar sobre táticas e escolhas durante a partida, porém não o recomendo para 4 e muito menos para 5 jogadores. Se tivesse alguma interação entre jogadores, como, por exemplo, ao usarem um local onde tem alguém, acho que esse problema seria bem menor. Altiplano é um jogo muito bom de montar uma maquininha e se você é um jogador que gosta disso, eu recomendo.” (Raphael Gurian, o tocador de flauta de pan amarelo)
“Altiplano é um jogo que requer um certo nível de estratégia, porém sua mecânica não é muito complexa, o que facilita um pouco para jogadores iniciantes. Ele possui elementos que definem sua estratégia inicial, como habilidades próprias e objetivos individuais, tornando-o um jogo mais focado para cada jogador, o que não impede os jogadores de preverem e tentarem bloquear as jogadas uns dos outros de forma intencional (principalmente na aquisição de cartas). O fator "sorte" está presente na administração dos recursos que se tem acesso a cada rodada, instigando o jogador a adquirir um maior número de habilidades (extensões) que o auxiliem a cumprir seus objetivos de forma mais eficaz. A arte possui um toque étnico que funciona muito bem com o objetivo do jogo. A estrutura do tabuleiro individual pode ser um pouco confusa e não tão funcional, e o jogador terá que trabalhar de um jeito pessoal no posicionamento de suas cartas e recursos que obtiver. Apesar disto, quando se cria afeição, é um jogo divertido que nos faz desenvolver diferentes estratégias a cada partida, dificilmente se tornando um jogo enjoativo.” (Heloisa C. Fernandes - Lola_Fernandes, a criadora de alpacas vermelha)
Um texto de Raphael Gurian
Sociedade dos Boards
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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