Meu coração
Foi escolhido para o Exército divino
De Deus.
Ontem escrevi sobre o
Kings of Israel, cujo tema descreve um período anterior, dos reis judeus, ao do jogo de hoje. Commisioned é o início da igreja do Cristo no Oriente Médio judeu e seguindo para a Europa romana. Posso dizer que não tenho religião, mas que valorizo e adoro todas as religiões e todos os Mestres espirituais e, por isso escrevo aqui sobre o Cristo como Mestre com M maiúsculo, assim como escrevo sobre outros Mestres, Buda, Krishna, Sri Ramakrishna, Sri Aurobindo, Swami Vivekananda, Sri Chinmoy e diversos outros. (Para quem tiver curiosidade, aqui tem uma série de artigos sobre
o que é um Mestre espiritual). Também posso dizer honestamente que o jogo em si é bom o suficiente, e que não precisa gostar do Cristianismo para curtir o desafio e as mecânicas do jogo.
No jogo, cada jogador representa um apóstolo, que deve cumprir sua parte na missão deixada por seu Mestre: “Ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Espírito Santo...”
Novamente, fazemos a comparação com o Pandemic para situar vocês.
Mas nesse jogo há 5 cenários e dois mapas diferentes (Oriente Médio e Europa + Oriente Médio). Ou seja, o seu objetivo não é “curar as 4 doenças antes de 8 crises ou o baralho acabar” – em cada cenário o objetivo muda.
Mas em geral eles são o Pandemic inverso. Você precisa fazer discípulos numa região (gerar cubos), que em número de 3 ou mais se tornam uma igreja (surto). A partir da igreja, você pode movimentar um dos discípulos para fundar uma igreja num território vizinho.
Até agora vocês devem ter pensado que só tem o tema e os cenários a mais que o Pandemic, grande coisa, certo? Então segura aí, por que lá vem, aforismo seguido de explicação:
Os mensageiros-silêncio de Deus
São aqueles
Que foram escolhidos
Por Deus
Para manifestá-Lo poderosamente
Na Terra.
Você não ganha 4 ações por rodada. O que é preciso é orar em silêncio, em solidão, para receber a orientação do Espírito Santo (“...manifestá-Lo poderosamente na Terra.”) Cada jogador em segredo escolhe duas cartas da sua mão (suas orações) e coloca viradas para baixo. Depois o primeiro jogador (ancião, supostamente mais em comunhão com o Espírito) abre as cartas todas e escolhe as mais adequadas para aquela rodada. É muito legal, pois você tem que sozinho tentar imaginar qual será a estratégia do ancião nesta rodada, escolher as cartas que acha que serão úteis e ainda dar opções caso a estratégia dele seja diferente da sua E, ainda, fazer sobrar boas cartas para no fim da rodada fazer aquele deck-building legal, comprando cartas mais fortes com os pontos das que restaram em mãos. As habilidades típicas são aumentar um discípulo, mover um discípulo, remover obstáculo ao movimento, remover obstáculo ao crescimento. As orações melhores conseguem fazer mais movimentos, crescer mais, e os milagres fazem coisas impossíveis, como retornar a vida discípulos mortos ou transportar um apóstolo preso para o outro lado do continente. (Você pensou que um apóstolo de um Mestre espiritual ia ficar solto por aí sem ser preso ou apedrejado de vez em quando? A Madre Teresa quase foi expulsa pela própria Igreja Católica antes de reconhecerem formalmente o chamado que ela tinha para fazer algo que era diferente do costumeiro, e beatificada)
Cada jogador começa com cartas todas iguais, únicas ao seu personagem. Assim, fica um pouco difícil dar muitas opções no começo. Mas, com o passar do tempo, vão aparecendo cartas mais fortes no baralho, milagres, os evangelhos são escritos, etc.
Por sinal, os objetivos de cada cenário são diferentes, mas, no plano prático, costumam girar ao redor de variações e misturas de
1) Disseminar a igreja para todos os lugares determinados
2) Escrever todos os evangelhos determinados pelo cenário
3) Não permitir que X igrejas sejam extintas nesse processo.
4) Fortalecer X igrejas até o número de Y discípulos.
Essa parte dos evangelhos é bem legal também, pois gasta-se tempo para escrever os evangelhos. Talvez nesta rodada o ancião deixe para lá a opção que você deu a ele com a sua carta de “evangelho de Lucas” em troca de outra prioridade, e essa carta não apareça de novo na sua mão por muito tempo... fica aquela tensão “será que vai aparecer de novo antes do tempo acabar?” Você fica torcendo (orando) ao embaralhar o baralho de descartes, para que ela volte logo mais em cima antes que vocês percam o jogo.
Outra coisa muito boa são os eventos, que podem ser embaralhados de forma a criar maior ou menor dificuldade. A cada rodada você abre uma carta de evento. Alguns são bons, mas a maioria são ruins. Todas as igrejas de uma região não podem crescer por causa da opressão do governador, alguma epidemia mata metade dos discípulos de uma região, falsos profetas aparecem dentre os discípulos e tentam dividir a igreja, etc. Todas as cartas possuem uma referência, que você pode olhar no manual e ler o trecho histórico, muitas vezes citação direta dos evangelhos, sobre aquele acontecimento. Tem coisas lindas ali. Lembro de um, uma citação de Paulo, exortando os discípulos a não se acometerem por pensamentos superficiais de pessoas que queriam usar a religião em bem próprio, mas sim lembrarem-se sempre e viverem os princípios espirituais em si que aprenderam em sua formação.
Adorei o jogo. Posso recomendar muito.
Deus compassivamente
Escolhe cada vida-artista
A pintar um quadro
De um mundo amante-da-paz.
-Sri Chinmoy
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PS: Se tiverem comentários, ideias sobre o que escrever, se gostaram ou desgostaram particularmente de algo que escrevi ou de que parte do texto (sobre o jogo em si ou sobre a abordagem secundária do tema), serei grato pelo feedback nos comentários, para eu saber um pouco mais como posso servir melhor.
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Com gratidão,
por Patanga Cordeiro