Essa semana rolou jogatina no bar de jogos aqui da cidade, o Voyager. Toda semana eu jogo lá com um grupo, composto por gente de tudo quanto é lugar. É massa que acabo conhecendo várias pessoas, de países e culturas diferentes. Por outro lado, como jogamos no bar, e toda semana muda um pouco o grupo, acabamos normalmente jogando só coisas mais leves mesmo.
Falando um pouco sobre o lugar, é um bar com um monte de jogos disponíveis. Ele também tem comidas e bebidas, inclusive algumas cervejas especiais com temática fantástica, como "Hobgoblin", "Imperial Red", entre outras. Os preços estão na média dos bares aqui da Alemanha.
Quanto aos jogos, o lugar tem um acervo de mais de 450 títulos disponíveis, e é só pegar e jogar. Não tem nenhum tipo de monitor pra explicar regras ou ficar cuidando. O melhor de tudo isso é a respeito da tarifa pra jogar. Cada pessoa paga 1 euro pra jogar quantos jogos quiser no dia. Tem também o plano anual, que custa 25 euros. Posso estar enganado, mas acho que com esse preço, no Brasil, não é possível nem alugar 1 jogo sequer!!!
Bom, vamos ao que interessa...
Andrew, um dos caras novos no grupo, levou o Archipelago na jogatina da semana passada. Acabamos não jogando, mas deixamos combinado de jogar. E essa semana, já começamos com ele. O jogo é do Christophe Boelinger, que também é autor de Dungeon Twister e Earth Reborn, entre outros. Resumidamente, é um euro com vááários elementos. Ele tem worker placement, colocação de tiles, controle de área, comércio, e mais coisas. E tem muita interação!
A parte visual do jogo é muito boa! As ilustrações são muito bem feitas, seja na capa, nas cartas ou nos tiles. Apesar de ter bastante coisa, é tudo muito claro e fácil de entender. A qualidade dos componentes também é boa, no mesmo padrão que os jogos de grandes editoras apresentam. O tema do jogo é um pouco controverso. Eu não me incomodei nem um pouco com ele, mas o pessoal volta e meia comentava algo sobre. Não que estivessem incomodados, mas vi que foi algo que chamou atenção deles. Colonização da América, com direito a escravos, exploração de bens, e por aí vai...
A explicação das regras durou um pouco mais de uma hora. Elas não são complicadas, mas tem muita coisa pra fazer, o que leva tempo pra explicar. Uma coisa interessante do jogo é que ele tem três tipos de objetivos, os de curto, médio e longo prazo. Isso influencia o tempo de jogo. Nós jogamos com os objetivos do jogo curto.
Vence quem tiver mais pontos de vitória. Os pontos só são contados no final da partida, e como cada jogador tem uma carta de objetivo que é secreta, ninguém sabe ao certo quem está na frente, pois ninguém sabe o que dá pontos na partida (além da sua própria carta). É possível identificar um certo padrão no estilo de jogo que cada um vai desenvolvendo, mas não dá pra ter uma ideia muito clara de quem é o possível vencedor. Essas cartas de objetivos além de determinar o que valerá pontos no final do jogo (para todos os jogadores, não só o dono da carta), também mostra as condições de fim de jogo.
Para dar um exemplo: a minha carta mostrava que em uma partida de 5 jogadores, o jogo acabaria assim que o estoque de dois recursos terminasse. E ela dava pontos pra quem controlasse igrejas. Entre as outras cartas, as condições poderiam ser dependendo do número de marcadores de exploração, ou o número de cidades construídas, etc... E na parte de pontuação, poderia ser pra quem possuía mais minérios, ou mais cartas de ação, etc...
No elemento de alocação de trabalhadores do jogo, temos um dos tabuleiros (o jogo tem vários), onde escolhemos as ações. No geral, todos os espaços podem ser utilizados por todos. Só há algumas ações com limitação de vagas. Entre as ações, temos as de pegar recursos, negociar mercadorias com os mercados local e externo, construir, fazer a taxação, explorar, entre outros.
O local onde o jogo vai se desenvolvendo, que seria o arquipélago mesmo, é formado por vários hexágonos que vão sendo montados na medida que o jogo avança, através da ação de exploração. Nesses hexágonos, podem ter diversos tipos de recursos disponíveis. Para poder colocá-los em jogo ao escolher a ação de exploração, o jogador pega uma peça, e precisa encaixar em um espaço possível, estilo Carcassone, pra facilitar o entendimento. Por exemplo, em uma aresta com montanha, é necessário encaixar onde tem montanha. E onde é metade água e metade campo, precisa encaixar onde seja assim também. Caso tenha sucesso, o jogador leva um de seus colonos pra nova localização e pega um dos recursos que está presente lá, além de um marcador de descoberta. Pode acontecer de algumas vezes o jogador perder o turno ao escolher a ação, porque não tem onde encaixar a peça!
Falando dos outros tabuleiros do jogo, dois deles são os mercados. Um é o mercado local, e o outro é o mercado externo, que seriam as coisas levadas de volta para a metrópole. Cada recurso tem seu espaço, e a cada número de recursos no mercado, o preço altera. Assim, quando o mercado ainda está vazio, é possível vender mercadorias com um preço elevado, e quando o mercado está cheio, dá pra comprar coisas bem baratas. É um bom meio de conseguir dinheiro.
Outro tabuleiro que faz parte do jogo é o que mostra a quantidade de pessoas colonizando o local (o número de meeples dos jogadores no arquipélago) e o que seria a satisfação (ou insatisfação) dos nativos. Há inúmeros fatores que mudam esse índice de satisfação, e é algo que os jogadores devem prestar atenção, pois se em qualquer momento isso se igualar ao número de colonizadores, acontece uma rebelião e todos os jogadores perdem a partida.
Por fim (eu acho...) ainda tem o tabuleiro de trabalhadores disponíveis para contratação. Isso também vai mudando de preço de acordo com a disponibilidade, e é mais um fator que pode influenciar no "humor" dos nativos.
Além disso (nunca acaba!), também tem as cartas. Elas podem ser de ação ou de personagens. Pelo que eu lembro, não tem muita diferença entre elas, pois os personagens também apresentam ações. Acho que a diferenciação é mais por causa dos objetivos mesmo. Há ações do tipo "dobre a quantidade de madeira ao explorar esse recurso", e outras mais complexas, com bônus para construção de navios, ou para escravizar trabalhadores entre diversas outras possibilidades.
Muito bem! Parece que eu já escrevi um monte e ainda assim não cheguei em lugar nenhum. É um pouco do sentimento do jogo. Eu já posso dizer que mesmo assim eu gostei dele, possui várias mecânicas interessantes. Mas ele parece que é aberto demais. Os jogadores podem fazer trocas ou vendas entre si a qualquer momento. E qualquer tipo de negociação! E aí depende muito do grupo. É o tipo de jogo pra jogar com quem quer vencer! Por que aí ninguém vai simplesmente dar algum recurso pra alguém de forma aleatória, como aconteceu na partida que eu joguei, sem nenhum motivo estratégico. E isso acaba desbalanceando tudo.
Pra piorar, a nossa partida demorou por volta de 4 horas (e jogamos com os objetivos de meia hora!), e perto do final uma guria simplesmente abandonou e foi embora. Nisso, as condições de fim de jogo já se alteraram, as estratégias de ocupação do mapa e taxação de utilização de certos espaços também, assim como o número de colonos na ilha e tudo mais. Deveríamos ter encerrado a partida por ali mesmo, mas o pessoal insistiu em seguir jogando. E um dos caras demorava uns 15 minutos toda vez que precisava fazer uma ação. Ficava pensando em todas as possibilidades e no fim das contas fazia o que ele tinha cogitado em primeiro lugar.
Foi foda. A partida começou legal mas foi enchendo o saco. Repito, eu gostei do jogo, mas acho que ele tem que ser jogado com o grupo certo.
O jogo ainda tem mais elementos (!!!) mas pra não me alongar mais ainda, acho que fica mais fácil pra quem tiver realmente interessado no jogo, assistir essa resenha feita pelo Mestre dos Magos:
Sei que o jogo tem algumas expansões, como uma com o modo solo e outra que introduz alguns elementos de batalha (eu acho), pelo que o dono do jogo me falou. Enfim, pra quem gosta de euro com muita interação, pode ser uma boa.
Lendo, desta vez com calma, seu relato, gostei ainda mais do jogo.
Certo que o sr. terá que trazer um pequeno container do velho continente com peças exóticas como este jogo para jogar com as pessoas certas que cá aguardam o amigo
Se tivesse como, levaria várias malas só de jogos. Já estou ficando preocupado com os que já adquiri, e ainda tem Essen pra ir! E tenho certeza que jogando com o grupo aí ele funcionaria bem melhor que jogando com o grupo semi aleatório daqui.
Eu gosto de resumir o Archipelago como "Catan gamer". Mas além do troca troca ele tem a camada do traidor e a desconfiança do que é que realmente dá ponto no jogo. Teve uma partida que alguém comprou um templo "à toa". Um outro jogador interpretou como sendo o objetivo escondido e começou a fazer também. Daí todo mundo na mesa começou a fazer templos sem para e acabou por disparar o final da partida. Não é preciso falar que não valiam nada. Foi engraçado pelo menos. haha
Não é um jogo para qualquer grupo, o lance de alguém poder acabar com o jogo por não estar ganhando pode ser interpretado como antijogo por alguns e deixar um gosto amargo na boca.
Esse Boelinger é maluco e genial! E a versão solo é fantástica de jogar também, por incrível que pareça.
igorknop, foi exatamente assim que o cara apresentou o jogo hehehe. Falou que era um Catan mais pesado. Eu diria bem mais pesado! Mas mesmo sendo mais pesado, ele não é complicado, o que é bom.
Quanto ao "traidor", achei uma possibilidade interessante. Teve nessa partida, mas o cara não soube jogar muito bem, inclusive até ajudando a conter a raiva dos nativos em algumas vezes.
Aí que é legal: é um jogo pesado com regras complexas. Só que, o tema é muito bem implementado e as regras e suas exceções são praticamente todas muito bem presas ao tema e acabam ficando intuitivas!
Nunca joguei este jogo, mas parece bem bacana. Estes dias estava pensando com meu grupo um euro que tenha bastante interação. Seria pauta para uma boa lista.
Apenas uma observação: percebi que sua resenha foi afetada por alguns elementos externos ao jogo e pertinentes ao grupo ou ambiente. Neste caso, não seria mais sensato jogar o jogo novamente e depois fazer uma resenha mais consciente?
Mas HighDensity, eu inclusive finalizei dizendo que a partida não foi muito boa, mas o jogo sim, é bom! Ele é cheio de mecânicas que funcionam bem, mas pelo tanto de interação que há, eu acho que ele deve ser jogado com o grupo "certo".
É daqueles que funcionam melhor quando todos estão com muita vontade de vencer, não jogando só por jogar, que foi o que aconteceu na partida que joguei. Caso tenha a oportunidade, adoraria jogar com o grupo que estou acostumado, tenho certeza que a partida seria melhor.
CassioLemos::Mas HighDensity, eu inclusive finalizei dizendo que a partida não foi muito boa, mas o jogo sim, é bom! Ele é cheio de mecânicas que funcionam bem, mas pelo tanto de interação que há, eu acho que ele deve ser jogado com o grupo "certo".
É daqueles que funcionam melhor quando todos estão com muita vontade de vencer, não jogando só por jogar, que foi o que aconteceu na partida que joguei. Caso tenha a oportunidade, adoraria jogar com o grupo que estou acostumado, tenho certeza que a partida seria melhor.
Ah Entendi =D
Digo isso pq eu mesmo ja joguei jogos excelentes com um grupo, porem quando fui joga-los com outro grupo, foi uma porcaria. Acredito que o ambiente e o grupo influencia muito na primeira experiencia de um jogo.
Eu tenho um sentimento de amor e ódio a esse jogo.
Como temática, é um dos mais legais que conheço. As regras amarram direitinho ações de venda no arquipelago e para o continente, uso de escravos, imigrantes, alocação de trabalhadores. Tudo muito redondinho (e caprichado).
Mas o que quebra esse jogo é o SEMI cooperativo.
No que diz respeito ao cooperativo - muito interessante. Todos juntos trabalhando em prol de conseguirem bater um objetivo antes da independência do arquipélago. Mas quando entra o "semi" no meio, e que realmente entre todos os ganhadores, um será o verdadeiro ganhador, o jogo da a escorregada.
Pelo menos no meu grupo, ninguém quer ser um dos ganhadores coadjuvantes. Todos jogam para ser o ganhador final. E ai, para conseguir isso, não tem como você ficar ajudando muito contra a pressão do tabuleiro. Ou você se foca em ganhar o jogo sozinho, ou se foca em ajudar o grupo como um todo, segurando seus recursos para bater seus objetivos e vendendo seus produtos para quem lhe pagar mais (mesmo que seja para o continente, desagradando os colonos).
Criamos umas regras da casa para tentar incentivar o pessoal a ajudar os colonos, mas não ficou muito interessante.
Pensei que com a expansão isso poderia mudar, mas não aconteceu.
Em minha mesa, o egoismo e ganancia de ser o vitorioso, sempre nos leva a uma derrota contra o tabuleiro.
PS.; Isso sem se falar na inclusão de um traidor, que não fará questão alguma de ajudar. Em nossas mesas, até tiramos esse objetivo...