por Patanga Cordeiro
Ilha do Tesouro: cadê o meu presente?
De todos os presentes
Que ofereci a Deus,
O meu presente-felicidade
É do que Ele mais gosta.
Pergunto: você gosta, digamos, de presentes? E, se estiverem embrulhados, não é mais cativante ainda... o mistério por detrás do papel de presente?
Há um ditado japonês que é “Se a flor estiver escondida...” Justamente, o aforismo para aí, sem explicar o que acontece por a flor estar escondida. Você mesmo chega à conclusão de que a própria magia do mistério é suficiente para inspirar você. Como uma flor em botão, que você não sabe ainda qual vai ser a cor, e que o alegra tanto quando finalmente e de repente ela floresce!
Bom,
Treasure Island é assim.
Meus amigos são todos adultos, mas ano passado fizemos uma árvore de natal cheia de presentes embaixo, com cartão com “De Papal Noel para Fulano”.
Bom, Treasure Island é assim.
Imagine você como uma criança... ao acordar, vê um bilhete escrito com uma letra disfarçada (pode ser da mamãe, mas você não tem certeza) dizendo: “Parece que tem algo perto da estante da cozinha. Você vai até lá e só encontra outro bilhete colado no vidro: “Talvez amanhã haja algo na casinha do cachorro...” Você resolve ir lá hoje mesmo, mas não encontra nada. Espera ansiosamente o amanhã chegar. O amanhã chega. Mais um bilhete: “Na noite de lua cheia, um monstro vai aparecer... mas não tenha medo, pois ele irá lhe alegrar!” Ai, que tensão? Monstro? Não ter medo? Lua cheia?
Chega o dia. No meio da sua pilha de brinquedos de pelúcia, o jogo “Lobisomem por uma noite”. Era um monstro mesmo, mas que monstro legal!
(Narrativa de uma brincadeira que fiz de verdade com os filhos de um amigo -
coloquei o modelo aqui, se tiver interesse em reaproveitar)
Bom, Treasure Island é assim.
Assim como?
Um jogador é o pirata Long John Silver, temido nos sete ou mais mares por onde passou. Os demais são piratas da sua tripulação, que o prenderam numa torra e tentam extrair informações sobre o paradeiro do tesouro enterrado na ilha. Ele é como se fosse o Fury of Dracula às avessas. Ao invés de fugir dos caçadores, é como se o Drácula esperasse algumas rodadas para depois correr atrás deles. Mas o jogo de hoje é semi-cooperativo. Só um dos piratas ganha, mas eles precisam agir todos juntos para que um deles ganhe antes que o pirata-mor fuja da sua prisão e também fuja com o ouro enterrado!
As pistas do tesouro
No Treasure Island, a cada turno o pirata Long John Silver dá uma informação, que pode ser verdadeira ou falsa (mas que os jogadores podem tentar confirmar sua veracidade se não se importarem em gastar suas dicas), sobre local onde o tesouro está enterrado. Cada pirata pode caminhar um pouco pela ilha e fazer uma ação de procura pelo tesouro, inclusive ações únicas de cada personagem. Há várias cartas de dicas, inclusivas (está a norte de você), exclusivas (não está a norte de você), etc. O Long John Silver precisa responder corretamente sempre, mas pode usar o espaço de manobra ou ambiguidade que houver para tentar confundir os demais mesmo nas pistas corretas. Por exemplo, se o um pirata estiver bem no meio do mapa e usar sua habilidade para saber se o tesouro está a norte, e o tesouro estiver bem a leste dele, mas milimetricamente a norte também, por exemplo, 30 cm a leste e 1 cm a norte, Long John Silver vai responder “está a norte, sim”. O melhor a fazer é simplesmente riscar do mapa tudo que estiver a sul, mas considerar ainda leste e oeste.
Jogo de desenhar?
O mapa do jogo é feito para ser pintado com canetinhas apagáveis. Algumas informações são colocadas no tabuleiro principal. Outras informações, secretas, são preenchidas por cada jogador no seu tabuleiro individual e secreto. O jogo vem com 6 cores de caneta, régua, compasso, transferidor, “e o escambal”. É muito legal usar essas coisas no mapa! Lentamente, os piratas vão eliminando partes do mapa como possíveis de abrigar o tesouro, chegando mais e mais pertos de encontrá-lo.
Fugiu – e agora?
Depois de 17 rodadas, Long John Silver escapa da prisão e vai o mais rápido que puder para pegar o tesouro antes dos traidores. Uma coisa muito legal que aconteceu quando eu era o Long John foi que os jogadores estavam bem perto de encontrar onde estava o tesouro. Eu fiz uma finta: fui para outro canto do tabuleiro, mas que ainda conseguiria alcançar no próximo turno com apenas um movimento. Assim, todos os piratas ficaram surpresos, pois tinham quase certeza de que o tesouro não estava para onde eu estava indo. Eles mudaram de rota e começaram a procurar na direção falsa, deixando o tesouro livre e desembaraçado para a minha coleta no início do meu próximo turno. Um dia na vida de um pirata veterano é menos suado do que o de um pirata novato. Aproveitando, compartilho o vídeo com a f
inal do esconde-esconde olímpico do Monty Python e também a
possibilidade de aparecer nas olimpíadas de 2020 em Tóquio depois do campeonato mundial.
Geral
Os desenhos são lindos, como é de se esperar da arte de Vincent Dutrait. Um dos lados do tabuleiro é mais bonito, e o outro é mais fácil de enxergar os traços de caneta. Você escolhe.
Ele joga rápido (uns 45 minutos a uma hora) e é super fácil de aprender.
O único problema é se um jogador der uma super sorte e encontrar o tesouro, sem querer, na sua primeira rodada! (A chance é de menos de 1%, mas aconteceu na primeira vez que jogamos! Foi muito divertido, e até hoje dizemos que o jogador “roubou” e olhou na minha ficha secreta a localização do tesouro – e ele diz até hoje que foi o seu “faro apurado” que o brindou com a riqueza encontrada. Enfim, virou uma lenda entre nós.)
E deixo uma reflexão:
Quem sabe você não encontra um tesouro dentro de si mesmo jogando A Ilha do Tesouro?
Do you know that my heart
Is a sacred island?
Perhaps you know.
Do you know that my mind
Is a secret island?
Perhaps you know.
Do you know that my vital
Is an ignored island?
Perhaps you know.
Do you know that my body
Is a treasure-island?
Ah, you didn’t know?
Then learn it once and for all.
Mais sobre Treasure Island
Review do Shut Up and Sit Down
Outras análises do canal
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PS: Se tiverem comentários, ideias sobre o que escrever, se gostaram ou desgostaram particularmente de algo que escrevi ou de que parte do texto (sobre o jogo em si ou sobre a abordagem secundária do tema), serei grato pelo feedback nos comentários, para eu saber um pouco mais como posso servir melhor.
Com gratidão,
por Patanga Cordeiro