Quatro dias depois da última jogatina, volto para a Mansão Espínola, desta vez para construir ferrovias no Japão em 1889: History of Shikoku Railways. Além do anfitrião (espinola_df) e eu, compunham a mesa Pedro (Fubanga) e Victor Biscoito, um heavy gamer carioca radicado em São Paulo que acabou de se mudar pra Brasília e já se enturmou com o pessoal do HGB.
Dispensamos a entrada e já partimos direto para o prato principal. 1889 é um 18xx relativamente tranquilo, bom para iniciantes no sistema (embora não houvesse nenhum na mesa). Nossa expectativa era de uma partida na casa das 4 horas, talvez menos, o que nos daria oportunidade de jogar outras coisas depois.
Fizemos o leilão das companhias privadas, e acabei ficando com a Dougo Railway, que podia ser trocada por um share da companhia Iyo Railway (amarela). Assim, eu precisava apenas de mais 4 shares para começar a operar a IR logo no primeiro round de operações. Ao longo da partida, foquei apenas na IR, enquanto os demais operaram duas companhias cada um.
A partida começou equilibrada, com Biscoito um pouquinho pra trás por conta do dinheiro que gastou no leilão das privadas. Isso o deixou descapitalizado para flutuar de imediato a primeira companhia que ele presidiu. Porém, quando ele entrou no jogo, já começou a operar com trens do nível 3 (eu e Daniel ficamos, cada um, com três trens de nível 2, que, embora tenham gerado uma boa grana nos primeiros rounds, logo enferrujariam). Comprando trens baratos e sempre distribuindo dividendos, consegui manter a IR como uma das companhias mais rentáveis por boa parte do jogo.

Daniel ia bem com a Awa, mas talvez exatamente por esse motivo foi muito marcado, e sofreu um revés grande quando comprei o primeiro trem de diesel, o que enferrujou seus dois trens de nível 4. Ele teve que tirar dinheiro do bolso pra bancar um diesel. O mesmo aconteceu com o Pedro, que precisou bancar um trem de nível 6 quando o único trem de uma das suas duas companhias enferrujou. Esse revés, na prática, meio que tirou dos dois a possibilidade de vitória. A parada ficou entre Biscoito e este cronista. Consegui rodar meu diesel por alguns rounds, mas não foi o suficiente para compensar os três rounds de retenção de dividendos (e consequente desvalorização das ações) que tive que amargar pra me capitalizar e bancar meu diesel. Todos já estávamos no limite de certificados (14) no último stock round, e os três últimos rounds de operação foram só aritmética básica, sem grandes novidades no tabuleiro. Final: Biscoito 6.145; Marcius 5.302; Pedro 4.942; e Daniel 4.536. O novato chegou chegando, como dizem os cariocas. A partida durou mais ou menos 5 horas.

Daniel sumiu da sala por alguns segundos e voltou com uma cópia de Ponzi Scheme. É um jogo amalucado de endividamento extremo, em que o importante é sobreviver pra contar a história. Era minha primeira partida, e no início do jogo eu não sabia ainda calibrar as ofertas que podemos fazer aos outros jogadores pra roubar seus tiles de pontuação. Acho que entreguei um ou dois tiles a preço de banana pro Daniel antes de ter uma ideia melhor do valor de cada ponto. Sobrevivemos todos ao primeiro crash do mercado, mas logo depois Victor quebrou, o que detonou o fim do jogo. Daniel levou a melhor com 9 pontos, eu fiquei em segundo com 8 (a história teria sido outra se eu tivesse calibrado melhor aquelas primeiras ofertas!) e Pedro ficou em terceiro com 5. Minha segunda medalha de prata do dia.

Pedro teve que sair, mas os três remanescentes queriam mais. Saquei da sacola minha edição da Rio Grande de Samurai ("Onde eu estiver, um jogo do Knizia estará comigo"). Partida acirrada: desde o início mantive a dianteira dos elmos, Victor se armou pra dominar Edo, e Daniel foi comendo pelas beiradas, posicionando praticamente todos os seus barcos de uma vez só nos melhores espaços de litoral. No final, uma pitada de kingmaking: Daniel poderia ter acabado com o jogo e me dado a vitória, mas mudou a jogada e deixou o jogo seguir. Na minha vez, minhas opções eram dar a vitória pro Biscoito ou jogar por um empate em primeiro lugar com ele. Obviamente foi o que fiz, e terminamos empatados com 5 pontos.

O cansaço batia, mas a essa altura éramos três alucinados e não conseguíamos parar. Botamos na mesa mais um Knizia, desta vez o filler Thor. Entorpecidos pelo vinho e pela exaustão, fazíamos sequências de jogadas sub-ótimas, mas sempre nos divertindo. Daniel me deu a chance de terminar a partida nas três rodadas (uma vantagem nesse jogo), e acabei vencendo com 58 pontos, com Biscoito e Daniel totalizando 49 e 47 pontos, respectivamente.

Nove horas com quatro ótimos jogos, ótimos amigos e muitas risadas: sucesso total. Terça tem mais!