Era meio da tarde.
Cheguei na rodinha de amigos que estava sentada debaixo da sombra de uma árvore, como fazíamos habitualmente às sextas feiras para decidirmos qual seria a diversão do final de tarde.
O usual era escolhermos algum filme que estivesse passando no cinema ali perto e depois tomarmos um lanche em alguma lanchonete. Algumas vezes trocávamos o filme por um filme de terror alugado na locadora do bairro e pizza na casa de um de nós.
Mas naquela tarde assim que me sentei no chão vi que a conversa estava bem diferente. Um dos meus amigos estava com um livro nas mãos e alguns dados defronte a ele. Ele estava contando que aquele livro, que seu pai havia trazido em uma recente viagem que havia feito aos EUA, trazia dentro dele regras de como viver aventuras em mundos fantásticos com monstros e perigos inimagináveis.
Aquilo foi conquistando a turminha de imediato, mas tínhamos um problema. Era somente um livro e estava inteiro em inglês. Tudo bem, hoje isso não seria nenhum grande problema, mas em meados dos anos 80 era uma dificuldade e tanto.
Resolvemos juntar a grana que seria destinada ao filme e ao lanche e fomos a uma papelaria e conseguimos fazer xerox do livro inteiro. O processo se repetiu nas próximas semanas até que cada garoto tivesse sua própria cópia do livro misterioso.
Em seguida passamos a fazer a leitura dele. Naquela época não haviam cursos de inglês em cada esquina, isso sem falar no custo, então com ajuda de um dicionário e muita boa vontade fomos abrindo uma picada e decifrando o livro de paragrafo em paragrafo.
Depois de algum tempo conseguimos ter uma noção de como era o jogo e então numa tarde de sexta, marcamos o que seria nossa primeira aventura. Começamos a jogar por volta das 17hs e devemos ter ido até mais de meia noite. Talvez essa tenha sido a aventura mais simplória e mal conduzida que já participei, contudo foi com certeza uma das mais marcantes. Foi empolgante. Ao final estávamos todos muito contentes e felizes pelas horas e horas que passamos enfrentando desafios. Havíamos pela primeira vez entrado em Forgotten Realms.
O ano era 1986, eu tinha 12 anos. E ser adolescente naquela época tinha suas dificuldades. Sem internet, sem celular, importar um livro ?? Só se algum adulto ou amigo fosse viajar e não se importasse de trazer, na verdade de procurar e trazer os livros.
Estavamos no meio do que hoje se chama "Geração Xerox".
Hoje as coisas são muito mais fáceis. Compramos jogos do outro lado do planeta e nossa preocupação é com o prazo de entrega e com os impostos. Mas antes a coisa era punk. Cheguei a receber de duas pessoas diferentes dois livros iguais, porque foi o que acharam, na época vendi um para um grupo de outros amigos que estavam começando no RPG.
Hoje 32 anos depois continuo jogando. A internet facilita você ter um grupo do Sistema que você quiser a qualquer momento ( um viva para o roll20), posso comprar livros e fazer o download das regras em segundos.
São novos tempos. Muitos dos usuários daqui da Ludopedia também são jogadores de RPG mas sinto que as vezes falta um pouco de interação entre estes jogadores e por essa razão estou criando “Atrás do Escudo” um canal que será dedicado quase exclusivamente ao RPG.
Pretendo ir disponibilizando aqui reviews, dicas, matérias, personagens, aventuras, fanfics e novidades para novos e antigos jogadores.
Mas como primeira postagem eu gostaria de propor um pequeno debate: Como você conheceu o RPG ?
Participe conosco e deixe seu breve relato.
Um abraço a todos e na dúvida sempre rolem a sanidade.