O grande incêndio de Londres, séc. XVII, autor anônimo
Em
London, jogo do sensacional designer inglês Martin Wallace, os jogadores são responsáveis pela reconstrução da cidade de Londres após o incêndio de 1666 que devastou grande parte da capital inglesa.
A tragédia, conhecida como
O Grande Incêndio de Londres, foi uma conflagração devastadora que, entre os dias 02 de setembro a 05 de setembro de 1666, devastou 4/5 do Centro Medieval Histórico localizado dentro dos limites do antigo Muro de Londres, juntamente com grande parte das construções a oeste do Muro. O incêndio consumiu cerca de 13.200 moradias, 87 igrejas, a Catedral de São Paulo, a maioria dos prédios públicos da cidade, o Castelo Baynard e três dos portões medievais do Muro.
Para se ter uma idéia da proporção da tragédia, um pedaço de cerâmica derretido encontrado por arqueólogos em Pudding Lane, epicentro do incêndio, e hoje exposto no Museu de Londres mostra que a temperatura chegou a impressionantes 1.250° C!
Para criar a trilha sonora deste excelente jogo, escolhi músicas de
Henry Purcell (1659 - 1695), o mestre do Barroco inglês conhecido pelo epíteto de
Orpheus Britannicus. Considerado um dos maiores compositores ingleses de todos os tempos, Purcell foi responsável por criar um estilo único de Barroco Inglês.
E falando em "Barroco inglês", faz-se necessário um breve esclarecimento: ainda que o termo
Barroco seja utilizado para a música erudita composta a partir de aproximadamente 1600, na Grã-Bretanha o Barroco estabeleceu-se apenas a partir de 1660, devido a vários fatores históricos, como a
Guerra Civil Inglesa e o
Interregnum. Somente após a restauração da monarquia, marcada pela ascensão de
Carlos II ao trono inglês, a corte real tornou-se novamente patrocinadora da música e das artes, e o estilo popularizou-se no país.
Purcell nasceu em uma família de músicos. Seu pai, Henry, pertencia ao coral da Capela Real e cantou na coroação do Rei Carlos II. Após a morte do pai, em 1664, Henry foi posto sob a tutela de seu tio, Thomas Purcell, um talentoso cantor da Capela de Sua Majestade que criou o sobrinho como se fosse seu filho. Com a ajuda do tio, o menino entrou para o coro da Capela, onde estudou sob a batuta dos regentes Henry Cooke e, posteriormente, Pelham Humfrey.
Em 1670, aos onze anos, Purcell escreveu sua primeira composição: uma ode para o aniversário do rei. Aos dezessete anos matriculou-se na Escola de Westminster, tornando-se copista de partituras da Abadia de Westminster. Dois anos depois, em 1678, escreveu seu primeiro hino religioso,
Senhor, quem poderá dizer, além de outras canções e hinos sacros. Em 1679 ele assumiu o cargo de organista da Abadia após a aposentadoria de seu então professor, John Blow. Pelos seis anos seguintes Purcell dedicou-se quase que exclusivamente, porém não totalmente, à música sacra.
O período entre 1680 a 1688 foi importantíssimo para Purcell. Ele casou-se em 1682, o mesmo ano em que foi nomeado organista da Capela Real (cargo que ele ocupou concomitantemente com sua posição em Westminster), e escreveu diversas obras: além de hinos religiosos e música sacra, ele compôs sete trilhas para teatro, além de sua famosa ópera de câmara,
Dido e Enéas, considerada por alguns estudiosos como a primeira ópera genuinamente inglesa. Suas
Doze Sonatas (1683) e os belíssimos hinos para a coroação do Rei Tiago II (1685) também datam desta época.
Porém, suas maiores e mais importantes composições só seriam escritas posteriormente, como a ode para o aniversário da Rainha Maria II ("Come Ye Sons of Art", composta em 1694 e considerada uma de suas obras-primas) e as peças para teatro
Rei Artur (1691) e
A Rainha das Fadas (composta em 1692 como uma adaptação de
Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, a peça foi dada como perdida até suas partituras serem reencontradas em 1901). Nos anos seguintes, ele ainda compôs outras obras para teatro e obras sacras, incluindo as elegias do funeral da Rainha Maria II.
Purcell faleceu no auge de sua carreira, aos 35 anos, em 1695, deixando mais de 300 composições, que incluem hinos religiosos, cânticos, cânones, odes, minuetos, sonatas, música para teatro e obras para coral, cravo e viola da gamba. A causa exata de sua morte é desconhecida, porém muitos historiadores creem em uma forte gripe ou tuberculose.
Os discos abaixo são apenas uma pequena parte da prolífica obra deste magistral compositor:
PURCELL INSTRUMENTAL MUSIC - Freiburg Barockorchester
https://open.spotify.com/album/7LkiW5rdgCuwR4iRtXwWal
Sob regência do maestro Thomas Hengelbrock, a Orquestra Barroca de Freiburg interpreta trechos instrumentais de algumas das obras mais famosas de Purcell, como a ópera Dido & Enéas, além das obras para teatro A Rainha das Fadas, Rei Artur e Abdelazer.
PURCELL: TWELVE SONATAS OF THREE PARTS - The King's Consort
https://open.spotify.com/album/5n19utmrct5xcC1uu50Re6
Fundada em 1980 pelo maestro e cravista inglês Robert King,
The King's Consort é uma das mais importantes orquestras barrocas do mundo. Neste álbum, gravado na Igreja de São João em Loughton, Essex - conhecida por sua acústica perfeita - o grupo apresenta as belíssimas
Doze Sonatas, compostas por Purcell em 1683, obra famosa por combinar características barrocas francesas e italianas com uma melancolia tipicamente inglesa, resultando em uma obra com características musicais bastante singulares.
HENRY PURCELL: FANTASIAS FOR THE VIOL - Jordi Savall & Hespèrion XXI
https://open.spotify.com/album/3GPaHV9o1Se0KkG845GUWV
Purcell compôs esta série de
fantasias para viola da gamba, cujas partituras originais estão preservadas até hoje no Museu Britânico, aos 21 anos de idade. Nesta gravação de 1994 estas obras são magistralmente interpretadas pelo maestro e violista catalão Jordi Savall e a orquestra Hespèrion XXI.
PURCELL: SUITES AND TRANSCRIPTIONS FOR HARPSICHORD - Terence R. Charlston
https://open.spotify.com/album/2L6uxfjLdSU2oD7V5IWUlO
Muitas das composições de Purcell para instrumentos de teclado perderam-se com o tempo. Dentre as obras preservadas, a mais importante é a pequena coleção
A Choice Collection of Lessons for the Harpsichord, publicada postumamente por sua esposa Frances em 1696 e que contém as Oito Suítes para cravo, aqui apresentadas pelo cravista e organista inglês Terence Charlston. Estas obras demonstram o talento e domínio que Purcell tinha do cravo, e ainda que apresentem influências estilísticas francesas e italianas são, em sua essência, obras genuinamente inglesas.
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