Seguindo a sugestão do leitor Rafael Carvalho, resolvi trazer as Lições da coluna "Aprendendo Errando" aqui para a Ludopedia. Para evitar spam e postagens excessivas, colocarei apenas uma por semana. Assim, você pode acompanhar semanalmente por aqui, ou se achar melhor poderá conferir o conteúdo já publicado no blog. Sem maiores introduções, vamos para a primeira lição.
Tudo começou em 2011, quando eu estava bastante empolgado com a descoberta dos jogos de tabuleiro. A escassez de jogos era demais, para minha sorte encontrei os Print & Plays, jogos de disponibilizados de graça para imprimir e jogar. Depois de jogar Zombie in my Pocket eu pensei: “Nossa, seria massa eu criar um jogo meu nesse estilo solo, fica até fácil de ir testando”. E foi assim que nasceu (mais ou menos) o Rogue’s Quest.

Rogue’s Quest foi minha primeira empreitada na criação de jogos de tabuleiro, antes disso eu só havia criado sistemas de RPG. Por conta do meu background em RPG e meu gosto duvidoso por personagens ladinos foi que surgiu a ideia de criar esse jogo. Segue breve descrição do jogo:
Você é um ladino que está prestes a invadir um castelo para coletar o máximo de tesouros que conseguir. Rogue’s Quest é baseado em turnos, primeiro o Turno do Ladino, quando ele realiza suas ações como mover-se, atacar, roubar, abrir fechaduras; Depois é Turno dos Guardas, quando os guardas poderão mover-se e tentar lhe encontrar. Você deve se manter escondido dos guardas ou os alarmes serão ativados. Para vencer a partida, você deve sair vivo do castelo. Sua pontuação será a quantidade de tesouros que conseguiu do castelo.
Só tem um pequeno detalhe. Eu tive essa ideia em 2011, com menos de 5 meses no hobby. É aqui que entra nossa Lição de hoje. Nessa época eu tinha apenas 9 jogos de tabuleiro modernos nas costas. Isso, não é nem de longe uma quantidade boa para iniciar a criar seus próprios jogos.

Quando se conhece uma quantidade tão pequena de jogos, a tendência é criar um clone de algum jogo. Ou ainda pior, se você tentar criar algo diferente, provavelmente vai enfrentar muitos problemas pela frente. Isso acontece por um motivo muito simples: falta uma base sólida de conhecimento sobre mecânicas para que você consiga elaborar seu próprio jogo de um modo coerente.
Claro que tendo jogado RPG por mais de 10 anos é alguma base, mas não se iluda. RPG possui uma natureza completamente diferente dos jogos de tabuleiro modernos. Consequentemente, se você for se utilizar dessa sua base, você deixará o jogo muito focado nos aspectos de RPG (grande utilização de dados para realização de testes, tendências a criar sistemas de personagens mais complexos e utilização de fichas que usem lápis). Isso não é bom para um jogo de tabuleiro moderno, pois as mecânicas usadas em RPG tem um propósito diferente das utilizadas em jogos de tabuleiro. Tirando talvez o combate tático, as demais mecânicas são focadas em criar uma boa atmosfera de interpretação e criação de histórias, fatores menos presentes nos jogos de tabuleiro.
Então, recomendo fortemente que você jogue muitos jogos diferentes antes de tentar criar o seu primeiro jogo. Ao conhecer jogos diferentes você começa a aprender novas mecânicas e, mais importante, as variações já criadas. Dado a quantidade de mecânicas atuais, é difícil criar algo completamente novo. A criatividade e inovação do game designer atual consiste, na maioria das vezes, de pegar uma mecânica clássica e alterá-la de algum modo que a deixe consistente com o jogo que está sendo criado e, melhor ainda, transforme ela em algo mais interessante, divertido ou estratégico. Essas pequenas variações fazem os jogadores pensarem de um modo diferente e tentar soluções novas para aquela nova situação.
É importante ter esse conhecimento sobre outros jogos para que a criação seja mais tranquila. Caso contrário você se frustrará com um jogo cópia de outro ou um jogo cheio de problemas que você não consegue resolver. Como eu. Rogue’s Quest nunca ficou pronto realmente e provavelmente nunca estará, pois dificilmente retomarei seu desenvolvimento.
Entretanto, apesar de todas as frustrações e dificuldades, aprendi algumas lições com Rogue’s Quest. Essa é apenas a primeira delas. Até a próxima!