PUBLICADO EM http://onboardbgg.com/2015/01/30/sobre-a-mesa-dogs/
por Moisés Pacheco - MOITA1980

Dogs é um jogo que engana muita gente, especialmente quem não está familiarizado com os títulos da MS Jogos. Tanto a arte quanto o tema fazem o jogo parecer demasiado simples e infantil. Porém, de infantil Dogs só tem o focinho.
Jogo do tipo euro, de complexidade leve, onde cada jogador assume a gestão de um CRA (Centro de Resgate Animal) e tem como objetivo resgatar animais perdidos na cidade e gerir determinados recursos destinados ao tratamento dos animais.
Trata-se do terceiro jogo da MS Jogos, publicado pela primeira vez em 2013. Desenvolvido por Marcos Macri, um dos melhores designers de jogos do Brasil, especialmente de jogos com mecânicas do tipo euro, recebeu uma segunda edição no final de 2014.
Acredito que Dogs é o um dos melhores trabalhos de Macri até o momento. O jogo gerou um “burburinho” nas redes sociais quando apareceu no canal do Rahdo noYouTube. Apesar dos jogos do Macri não serem novos no mercado, muitos novatos no mundo dos board gamesforam conhecer o trabalho de um ótimo designer nacional por causa de uma fonte estrangeira… curioso, não? Mas deixo essa reflexão de “complexo de vira lata” no mundo dos board games como sugestão para um futuro artigo na nossa coluna Analysis Paralysis.
Vamos parar de falar de complexo de vira-lata para falar em resgatar vira-latas!

Os tabuleiros de Dogs: tabuleiro principal, boxes de ação e tabuleiros individuais (Foto On Board)
Mecânica:
– Movimento ponto a ponto
– Pegar e entregar
– Alocação de trabalhadores
– Oferta e demanda
– Gestão de recursos
– Coleção de conjuntos
O objetivo dos jogadores é conseguir o maior número de pontos por meio da gestão de seu CRA. Esses pontos são obtidos pela quantidade de animais saudáveis de um mesmo tipo em cada baia, pela diversidade de animais em todo o seu CRA, pela quantidade de recursos finais disponíveis e pelo pagamento do salário do seu ajudante na última rodada. Animais doentes na enfermaria contam pontos negativos.
O jogo se divide em três fases. Fase 1 – Recolher Animais; Fase 2 – Ações; e Fase 3 – Encerramento da Rodada.
A Fase 1 consiste no resgate dos animais no tabuleiro central que representa a cidade e o campo. Os animais são dispostos aleatoriamente no início da partida e são repostos sempre ao final da terceira fase. Na primeira fase, cada jogador, utilizando seu marcador de caminhão, deve gerenciar seu combustível para recolher os animais de seu interesse (lembrando que a maior pontuação do jogo é pela combinação de uma mesma espécie em cada baia). Cada movimento do caminhão consome um marcador de combustível que é comprado no início dessa fase. A otimização do consumo de combustível é essencial para as próximas rodadas.
O primeiro e o último jogador ao retornarem para o CRA recebem um bônus de recurso a sua escolha (gasolina, ração ou medicamentos). Cabe lembrar que sempre deve haver um marcador de gasolina para retornar ao CRA, independente da localização do caminhão no tabuleiro.
Na fase 1 pode ser coletados três tipos de animais: saudáveis – são enviados às baias ao final da fase; doentes – são enviados à enfermaria ao final da fase; e animais premiados – são devolvidos à feira de animais automaticamente e o jogador recebe uma recompensa em marcadores de dinheiro (expressa no tabuleiro). Caso não haja espaço disponível nas baias, os animais excedentes devem ser entregues aos CRAs dos adversários, que podem ou não aceitar a doação. Caso rejeitem, os animais excedentes vão para a feira de animais.

Caminhão abastecendo para o resgate. (Foto On Board)
Na Fase 2, o jogo deixa de ser um “pick and delivery” para se tornar um jogo do tipo “alocação de trabalhadores”. Cada jogador possui duas fichas grandes (eu substitui por meeples, para ficar mais interessante), uma representando você como gerente do CRA, e outra representando seu ajudante. A alocação desses dois trabalhadores se dá em um pequeno tabuleiro lateral, com duas opções de cartas a serem escolhidas. Em outras palavras, você coloca o seu trabalhador no box desejado, escolhe uma das cartas bônus (que já pode gerar recursos imediatamente) e pode executar as seguintes ações:
a) Prefeitura: Nesse local o jogador pode obter uma licença da prefeitura para construir novas baias, utilizando suas fichas de ampliação;
b) Armazém: O jogador pode trocar até dois recursos quaisquer por outros recursos desejados (gasolina, medicamento ou ração);
c) Pet Shop: Cada moeda (e não há limite!) pode ser convertida em dois recursos do tipo ração e medicamento, em qualquer combinação;
d) Veterinário: Cada remédio gasto pode curar um animal da sua enfermaria. O animal curado é realocado em uma das baias.
e) Feira de animais: Se houver demanda para o tipo pretendido, é possível vender, trocar ou comprar um animal. O custo para comprar um animal é de 10 moedas menos a quantidade de animais disponíveis na feira.
Cada espaço suporta até dois marcadores de trabalhadores (um, se estiver jogando em dois). Dessa forma, você pode acessar um box que lhe interesse diretamente ou que interesse a seu adversário, impedindo que ele possa utilizá-lo.
Feira de animais cheia… É hora de adquirir o animal que você precisa! (Foto On Board)
Na Fase 3, é necessário alimentar os animais nas baias (animais não alimentados ficam doentes e vão para a enfermaria) e pagar o salário do ajudante. As cartas bônus da fase 2 são trocadas e o tabuleiro é reposto com novos animais (apenas nos espaços vazios; os que não foram recolhidos pelos CRAs permanecem no tabuleiro de uma rodada para outra). Se não houver animais suficientes para repor os espaços do tabuleiro da cidade, o jogo termina e contam-se os pontos.
(CRA Happy Zoo, não só de cães vive Dogs! (Foto On Board)
Considerações finais:
Dogs é um ótimo jogo que tenta timidamente aproximar-se de uma simulação gerencial. Ele exige que o jogador pense em pelo menos duas rodadas futuras, apresentando uma mecânica de gestão de recursos muito inteligente e funcional. As duas fases do jogo são completamente distintas, uma ao estilo “pick and delivery” e outra como alocação de trabalhadores.
Sua rejogabilidade é alta, já que a aleatoriedade da distribuição de animais no tabuleiro e a disposição de cartas na fase 2 garante que uma partida nunca seja igual a outra.
No meu ponto de vista, o único (e grande) ponto negativo é um critério de pontuação baseado na quantidade de recursos. É típico que o primeiro jogador da última rodada corra em direção ao Pet Shop para comprar um caminhão de ração ou medicamentos, já que as moedas não valem pontos ao final do jogo, mas os recursos, sim. Como existe limite de marcadores por box (um marcador por box para dois jogadores e dois por box para três ou quatro jogadores), o jogo se torna um pouco desleal nessa última rodada. Para isso, sugiro duas alternativas: a) ao invés dos recursos, converter as moedas em pontos, na razão de 1/1 ou 2/1; ou b) recursos e moedas não valerão pontos ao final do jogo.
Outro ponto que algumas pessoas consideram negativo, mas que não afeta o jogo em si, somente a sua temática, é que na segunda edição novos animais foram adicionados, como porcos, gatos, furões e coelhos. Talvez uma tentativa de atingir o mercado estadunidense? Não sei. Mas muita gente achou estranho resgatar porcos e furões. Alguns brincam que o nome do jogo na segunda edição deveria se chamar “Animals”, não “Dogs”. Mas como havia dito, nada que afete o jogo, apenas a temática.
Quer um jogo “euro” genuinamente brasileiro, compre Dogs e não vai se arrepender. Gostou de Dogs? Procure outros ótimos Jogos da MS (como Gran Circo e Viagem no Tempo) e valorize um pouco a prata da casa.
Pontos positivos:
– Jogo com muitas possibilidades e estratégias
– Pouca influência do fator sorte, a disposição aleatória dos animais não chega a ser um grande problema
– Alta rejogabilidade
– Temática familiar que agrada diversos tipos de pessoas (inclusive não gamers)
– Ótima porta de entrada para jogos mais complexos
Pontos negativos:
– Algumas pessoas não gostaram da inclusão de outros tipos de animais na segunda edição
– Temática leve costuma afastar jogadores mais hardcore e desconhecedores dos títulos da MS Jogos
– Regra da pontuação por recursos pode ser injusta
Ficha Técnica:
Jogadores: 2 a 4
Idade: a partir de 10 anos
Duração: 60 (2 jogadores) até 120 minutos (4 jogadores)
Tipo: caixa básica
Fabricante/Desenvolvedora: MS Jogos
Idioma: Português
Preço Médio: R$ 90,00