Os inserts são sempre bem-vindos, não apenas para ajudar a organizar as peças dos jogos, mas também para facilitar o setup e até durante o jogo. Sem falar que fica tudo muito mais bonito na caixa do que naquele tradicional amontoado de ziplocks. Apesar da qualidade e beleza dos inserts de MDF vendidos por empresas como a PrintCUT ou Bucaneiros, eles são um investimento razoável (de 60 a 80 reais). Portanto, resolvi tentar criar meus próprios inserts, não só pela economia de dinheiro, mas também pelo prazer que os trabalhos manuais muitas vezes oferecem.
Neste post vou contar um pouco da minha experiência inicial na confecção de inserts para meus jogos usando um material conhecido como "papelão cinza".
O Projeto
Uma das etapas mais trabalhosas de se fazer um insert pode não ser a fabricação em si, mas o projeto do mesmo. É preciso dimensionar muito bem para que os componentes do jogo caibam nos seus respectivos espaços e, ao mesmo tempo, é desejável também fazer um projeto simples, que facilite o corte e a montagem.
Costumo primeiramente fazer um esboço geral de como os componentes vão ficar dispostos, usando medidas aproximadas. Depois eu faço um desenho mais preciso, com as medições milimetricamente calculadas. Neste ponto, é importante lembrar de considerar a espessura do material utilizado.
A imagem abaixo é do projeto da segunda versão de um insert que estou fazendo para o Tzolk'in: The Mayan Calendar, incluindo a expansão Tzolk'in: The Mayan Calendar - Tribes & Prophecies.
O Papelão Cinza
Observei que muita gente faz inserts em casa usando o chamado "papel pluma" (foam board). Há inclusive
um post aqui na Ludopedia de um amigo, contando sua experiência fazendo inserts com esse material. No entanto, eu resolvi utilizar um material chamado de "papelão cinza", que é um papel bem grosso e rígido. Apesar do nome, ele não tem nada a ver com o papelão comum, ao contrário, é bastante compacto e rígido. Pra se ter uma ideia, ele é bem parecido com o papel usado nos tabuleiros e tiles dos jogos.
As vantagens que eu observei ao utilizá-lo foram:
- Espessura: o papelão que eu usei foi o de 2mm de espessura (que é mais ou menos a espessura dos tabuleiros). Para efeito de comparação, o papel pluma tem cerca de 6mm de espessura, deixando as paredes do insert muito grossas (e perdendo espaço, por consequência);
- Preço: em uma distribuidora de papel aqui na cidade a folha de 80cm x 100cm custa apenas R$ 5,40. Uma folha dessas dá pra fazer de 2 a 3 inserts;
- Aspecto: por ser um material muito parecido com o material do jogo, o insert fica muito natural junto dos demais componentes, ou seja, não fica aquela sensação de estranheza por ser um material diferente.
Corte
A principal desvantagem do papelão cinza é justamente a dificuldade de cortar. Por sua espessura, o corte das peças exige um esforço extra (comparado ao papel pluma). O estilete precisa estar sempre bem afiado e é preciso passar o mesmo com uma certa força umas 2 ou 3 vezes para finalizar o corte.
ATENÇÃO! Crianças, não façam isso sem a ajuda de um adulto! O estilete é uma ferramente muito perigosa!
Seguem algumas dicas úteis para a etapa de corte:
- Use uma régua de metal para guiar os cortes. Réguas de acrílico funcionam, mas logo você vai começar a cortar elas com o estilete;
- Uma base de corte também ajuda, se não quiser detonar sua mesa, bancada ou o próprio estilete;
- Faça as marcações com lápis na base do insert ANTES de colocar as divisões (as paredes), pois depois fica difícil colocar a régua para efetuar medições ou marcações;
- Ao cortar o papelão, segure bem a régua e, na primeira vez, passe o estilete com menos força, só pra fazer o primeiro "vinco". Isto vai evitar erros nas passadas seguintes, quando vai ser necessário aplicar um pouco mais de força. Se tiver paciência, passe mais vezes com menos força. Quanto mais força, maior a chance de errar;
- Dá pra fazer uma caixa sem precisar cortar todos os lados, mas apenas dobrando as paredes pra cima (como você faria com um papel comum). Para isso, passe o estilete no local da dobra no lado oposto, mas passe apenas 1 ou 2 vezes, para cortar apenas a metade da espessura do papel. Em seguida, dobre o papel para o outro lado com a ajuda da régua e depois junte as paredes com fita adesiva. A desvantagem deste método é que os cantos da caixa ficam com um "degrau" para dentro.
Cola
Para a junção das partes, eu testei primeiro a cola branca de papel, porém ela demora muito para secar. É inviável ficar esperando vários minutos sem poder mexer no insert após cada pedacinho que você colar. Já a cola "super bonder" não funciona porque seca muito rápido e você não consegue fazer o ajuste fino quando junta as partes. Ou seja, encostou, colou.
A estratégia que eu usei então foi, além da cola branca, usar pedaços de fita crepe para segurar as partes. Dessa forma, dá pra ir montando o insert mesmo com a cola ainda fresca. Além disso, você pode colocar pedaço de papelão provisórios para segurar as divisões enquanto a cola seca. Quando a cola secar, você tem a opção de tirar ou deixar os pedaços de fita. Se for tirar, cuidado para não rasgar demais as camadas do papelão. Se for deixar, lembre-se de usar o mínimo de fita possível para não "engrossar" o insert e também porque o revestimento adesivo não cola muito bem nas costas da fita. Nos meus inserts, eu sempre deixei as fitas. Às vezes, removia só o excesso.
Recentemente, comecei um novo insert e estou usando cola de silicone líquida. Estou gostando bastante, pois o tempo de secagem dela é de cerca de 30 segundos. Ou seja, ela permite um certo ajuste após juntar as peças, mas logo ela seca e deixa a junção bem firme. Acho que daqui pra frente, vou abandonar a fita crepe.
Revestimento
Um bom revestimento é fundamental não só para deixar seu insert bonitão, mas também para conservá-lo, evitando que as bordas comecem a rasgar com o tempo e uso e prevenindo sujeiras.
Se você sabe pintar, pode tentar aplicar uma tinta e/ou um verniz para dar acabamento. Mas não é o meu caso, que não tenho nenhuma experiência com tintas e pincéis. É claro que eu poderia aprender, mas decidi ir por outro caminho: plástico adesivo (também pode ser chamado de papel adesivo). Em uma boa papelaria é possível encontrar plásticos adesivos de várias cores (preto, branco, cinza, ...) e até com estampas diversas, como madeira, pedra, aço escovado, etc. O preço varia entre 5 e 10 reais o metro.
A desvantagem é o trabalho que dá. É preciso quebrar um pouco a cabeça e uma boa dose de paciência para conseguir fazer tudo certinho. Aos poucos fui desenvolvendo algumas técnicas para otimizar o material, não fazer tantos cortes e, claro, cobrir todos os cantos. Apesar do trabalho, o resultado é bastante satisfatório.
Exemplos
Abaixo eu mostro como ficaram meus primeiros inserts.
1º - Tzolk'in: The Mayan Calendar
Foi meu primeiro insert. Usei uma peça única para a base e fiz as divisões tentando simplificar ao máximo e aproveitar as "paredes". Revesti com plástico adesivo preto fosco. Como foi a primeira vez, cometi alguns erros, mas a cor preta ajudou a escondê-los.
2º - Euphoria: Build a Better Dystopia
Passada a primeira experiência, resolvi ousar um pouco e fiz um insert em 2 "andares". A parte de baixo está atrelada aos suportes laterais para o tabuleiro (na caixa original, esses suportes são de um papelão mais fino). Em cima, fiz uma estrutura modular para as peças e dados dos jogadores. Desta vez, usei um plástico adesivo branco fosco para o revestimento.
3º - The Voyages of Marco Polo
A caixa de Marco Polo já vem dividida originalmente em 4 espaços e com os suportes laterais para o tabuleiro. Como essas divisórias e suportes vêm pintados com a arte do jogo, não queria jogá-los fora. Então, resolvi fazer o insert todo modular. Ao invés de fazer uma base grande, fiz pequenas caixas para cada grupo de componentes, de forma a se encaixar nos espaços pré-existentes. Para o revestimento, eu usei um plástico adesivo com textura de madeira, tentando combinar com a arte do jogo.
Atualmente estou trabalhando em um novo insert para o Tzolk'in, só que desta vez totalmente modularizado e com suporte à expansão Tribes & Prophecies, que adquiri recentemente. Também estou experimentando novas ideias, como tampas para as caixas/módulos. Quando eu terminar, posto aqui pra vocês verem.
Comentem aí o que acharam e compartilhem suas experiências.
Abraço!