Khronos Hunter, do designer japonês Hiroyuki Okinoi, foi um jogo que me surpreendeu por vários motivos. Eu adquiri ele na Yellow Submarine em Kyoto, e apesar que não estava na lista de compra, me chamou pelas belas ilustrações da capa. O jogo, de 2015, é bilíngue japonês/inglês como muitos outros lançamentos recentes no Japão.
O jogo parte da premissa de que um portal no espaço tempo se abriu, e os jogadores, dentro dessa dimensão caótica, devem coletar Mana (a energia primordial) para encerrar o portal e retornar o fluxo do tempo para o normal.
Ao abrir a caixa me deparei com cartas lindamente ilustradas por Ayakanari, de uma qualidade excelente (linen finish), componentes de papelão robusto e alguns meeples em madeira. 
Partida de 2 jogadores em andamento, com todos os componentes do jogo.
Foi quando comecei a ler as regras quando me deparei com a segunda surpresa. Perai, isso aqui me lembra vagamente a... Banco Imobiliário.
Um velho conhecido...
Sim, amigos e amigas. Khronos Hunter é ao que parece uma re-imaginação do clássico Banco Imobiliário, com algumas mecânicas diferenciadas e algumas novas que dão um ar fresco para aquele jogo que todos amamos odiar. 
Khronos Hunter se baseia em algumas premissas básicas:
Você precisa coletar 100 Mana e cruzar a casinha de saída para vencer. Por tanto 
não tem mais eliminação de jogadores no jogo. Esses 100 de Mana são relativamente fáceis de conseguir (porem também de perder), então o tempo de jogo é consideravelmente menor ao clássico Banco Imobiliario.
Os jogadores começam com 
poderes assimétricos entre eles, definidos pelo herói que os representa. Esses heróis podem ser evoluídos durante o jogo, ficando mais fortes e desbloqueando novos poderes. Ao derrotar alguns chefes, podem se adquirir novos heróis para a sua causa, assim aumentando os seus poderes durante o jogo.
Em lugar de comprar terrenos e construir hotéis, em Khronos Hunter, podemos 
invocar criaturas nas casinhas vazias do tabuleiro. Cada criatura tem um valor de poder que será quanto mana roubará dos rivais que caiam nela, ou quanto ela nos renderá quando sejamos nos quem caiamos nela. Além disso, existe uma mecânica chamada de combos, em que as invocações aumentam de valor de ataque, por cada invocação da mesma cor nas casinhas adjacentes, seja qual for o seu dono. 
Criar combos é a melhor maneira de ficar rico.
Como da para ver nas fotos, certas combinações de invocações podem proporcionar até 50 de mana, o que é a metade do necessário para encerrar o jogo. Isso faz que conforme o jogo avance, as quantias se ganhem e percam com facilidade o que faz que a liderança do jogo oscile com facilidade.
Uma coisa legal é que o jogo tem uma mecânica que evita que um único jogador com sorte compre todo o tabuleiro. Quando você cai em uma invocação de um rival, você pode pagar o dobro do valor que ele está te cobrando para que a Invocação passe a ser sua. Isso faz que você arrisque a dar uma vantagem temporária de Mana a ele em troca de maior presença no tabuleiro. Também é possível realizar trocas de cartas no tabuleiro com outros jogadores (nunca com outra carta sua) para facilitar a criação de combos de invocações.
Alem das invocações existem 7 chefões no jogo, que começam nas esquinas do tabuleiro. Eles devem ser enfrentados por quem cair na casinha deles mas o jogador tem a opção de parar para lutar voluntariamente. Quando derrotados eles dão Mana e novos personagens para o seu grupo de heróis, mas se você for o derrotado, eles tomam parte do seu Mana, que fica acumulado com eles e irá para quem consiga derrota-lo, o que o torna um desafio mais desejável e pode render uma quantia considerável de Mana.
Um personagem de nivel 1 se une a um personagem ja evoluido de nivel 3 (branco).
Estratégia e Azar
A estratégia no jogo, como no banco imobiliário, vem muito limitada pela sorte. Mas ao contrario que o primeiro, neste você tem algumas decisões relevantes a tomar durante o turno:
·         Decidir se invocar ou não uma criatura (é bom ter algumas na mão para lutar contra os chefes, então não é sempre boa ideia baixar tudo). 
·         No caso que você caia em uma invocação rival, decidir se pagar ela, ou dobrar o preço para ficar com ela.
·         Trocar invocações com outros jogadores.
·         Decidir se você vai investir o seu Mana em melhorar o seu personagem (ou pode se beneficiar de alguma habilidade dele).
·         No caso de que você tenha passado por um chefe, decidir enfrenta-lo ou não.
Este ultimo ponto às vezes pode fazer uma boa diferencia no jogo, pois se você estiver para cair em uma casinha de um rival que vai te roubar muito Mana, as vezes é melhor parar no chefe e enfrenta-lo, mesmo que você perca para evitar que o outro jogador fique com o Mana.
Detalhe do tabuleiro após a morte de 2 chefões.
Obviamente, o dado segue sendo o maior herói e vilão do jogo, e não dá para negar que como o seu predecessor, Khronos Hunter é um jogo onde a sorte é determinante. Existem amplas possibilidades durante o jogo para se recuperar de grandes perdas, assim como de sofrê-las, e o equilíbrio entre os jogadores oscila com facilidade, devido apenas ao resultado de sua rolagem do dado.
Porem, devido as suas mecânicas diferenciadas, o 
tempo de jogo de Khronos Hunter é 
consideravelmente reduzido comparado com o Banco Imobiliário, podendo ser jogado em 20 a 30 minutos. Isso é garantido mecanicamente pelo fato que os chefes escalam em dificuldade, dando recompensas cada vez maiores conforme o jogo avança.
Conclusão:
Khronos Hunter certamente não será jogo do ano, de fato nem do mês. Porem é um jogo muito interessante desde o ponto de vista de um designer. É interessante ver como Okinoi pegou aquilo que todos conhecíamos e conseguiu, com apenas algumas mudanças, transformar em um jogo muito mais divertido e ameno: Sem eliminação de jogadores, com um tempo de jogo reduzido, com algumas decisões importantes na mão do jogador...
Ele é um jogo leve que recomendo para jogadores casuais e crianças, ou para aqueles dias em que simplesmente você não está muito afim de pensar.
 
Você gostará de Khronos Hunter...
- ·         Se você gosta de Banco Imobiliário. Seja fan assumido ou enrustido dos que escondem ele no armário da limpeza.
 - ·         Se você procura um jogo leve só para dar risadas com alguns amigos ou com crianças.
 - ·         Se você gosta de jogos com fator alto de sorte.
 - ·         Se você acha que tudo com anime fica melhor. Até Banco Imobiliário.
 
Você não gostara de Khronos Hunter...
- ·         Se a ideia de um jogo de “Rolar dado e mover” te dá calafrios.
 - ·         Você gosta de jogos nos que você esteja em controle de tudo.
 - ·         Você gosta de pagar com notas falsas no supermercado.
 - ·         Se você acha que tudo com Banco Imobiliário fica pior. Mesmo anime.