por Lucas Andrade - PUBLICADO EM http://onboardbgg.com/2015/08/21/sobre-a-mesa-viceroy/

No reino de fantasia de Laar, os regentes fazem manipulações políticas e recrutam aliados de todos os tipos e camadas da sociedade no intuito de tornar forte seu reino amado pelos séculos e séculos vindouros. Este éViceroy, um dos jogos mais falados dos últimos meses desde que sua versão original em russo ganhou a Europa no final do ano passado. A campanha da versão em inglês no Kickstarter chamou a atenção por algumas semanas este ano e, novamente agora, já que seus financiadores começaram a receber seus exemplares. Viceroy terá muito mais destaque já que ainda não ganhou as prateleiras das grandes lojas mundiais.
É um jogo abstrato de construção de pirâmide, no qual cada personagem tem um custo e uma função distinta conforme o nível da pirâmide em que é colocado, permitindo e exigindo uma boa camada de análise estratégica se você quiser que seus feitos no reino de Laar fiquem realmente registrados na História!
Mecânica:
– Gerenciamento de mão
– Seleção de cartas
– Leilão
– Coleção de componentes
– Colocação de peças (cartas)
Antes de entendermos como funciona uma partida de Viceroy, vamos dar uma olhada em uma carta de personagem:

Repare que temos meio círculo colorido na base e um quarto colorido em cada canto superior. Essas cores coincidem com as gemas que utilizamos para recrutar personagens e pagar pelo seus desenvolvimentos. Do lado esquerdo, temos quatro fileiras com duas colunas cada, com cores à esquerda e ícones à direita, e aí está o coração de Viceroy. O nosso amigo armeiro aí acima tem na fileira inferior, uma gema azul e um símbolo de escudo. Na fileira logo acima desta, uma gema verde e uma gema azul com símbolo de infinito e assim por diante. Para desenvolver (colocar) esta carta na base de sua pirâmide, ou seja, no primeiro nível, você paga uma gema azul (o custo à esquerda da primeira fila) e recebe um escudo (o bônus à direita da primeira fila). Para colocá-la no segundo nível da pirâmide, você deverá pagar uma gema verde (segunda fila) e uma azul (primeira fila), pois os custos são cumulativos. O bônus recebido é apenas o do nível correspondente, no caso, uma gema infinita azul que permitirá, doravante, que você não precise pagar uma pedra azul por turno no custo de desenvolvimento de cartas futuras, além de receber bônus na pontuação final. Para colocar uma carta em níveis mais altos, você precisa de duas cartas logo abaixo para sustentá-la. Você não precisa formar padrões de cores para construir sua pirâmide, mas se o fizer terá bônus durante a partida, recebendo gemas da cor do círculo recém-formado pela base da carta acima e pelos quadrantes das cartas abaixo, além de pontos na contagem final.

Componentes da versão russa
Agora que você já sabe como funcionam as cartas mais comuns em Viceroy, vamos entender o andamento da partida. Cada jogador recebe quatro cartas, das quais poderá colocar uma delas gratuitamente no começo do jogo, deixe-a virada para baixo, por enquanto, deixando outra carta em sua mão. As outras duas voltam para o baralho de personagens que será dividido em dois, um deck maior com 48 cartas e um deck menor do qual serão comprados os personagens adquiridos através dos bônus das cartas. São distribuídas três cartas de lei, cartas especiais que nada custam para serem implementadas e que fornecem habilidades diversas, desde ganhar bônus ou mudar cartas de posição, o que não é permitido pelas regras, até trocar tokens com outros jogadores. Duas gemas de cada cor são fornecidas para cada participante, sendo duas removidas aleatoriamente.
Cartas de Lei da versão russa
Estamos, pois, com a seguinte configuração: uma carta secreta em nossa frente que dará início a nossa pirâmide, quatro cartas na mão, sendo três de Lei e a outra de personagem que escolhemos inicialmente e seis gemas que ficam atrás de nosso biombo. Revelam-se as cartas iniciais e a de número mais baixo (esse critério é usado em toda a partida) faz seu efeito primeiro, fornecendo seu bônus da primeira fileira imediatamente.
A partida agora segue em duas etapas por rodada, a fase de oferta e a fase de desenvolvimento. No início de cada rodada são colocados quatro novos personagens abaixo de quatro cartas representando as cores das gemas, azul, verde, amarelo e vermelho. Assim, cada figura terá uma cor de gema associada a ela nesta etapa. Cada jogador secretamente escolhe uma das gemas conforme o personagem que deseja recrutar e todos revelam suas escolhas simultaneamente. Se escolherem cores diferentes, cada um pega o personagem desejado e a rodada segue para a próxima fase. Se a mesma cor for escolhida, quem a ofertou perde a gema e vai para uma segunda chance de leilão, até o máximo de três. O manual permite que os envolvidos discutam, combinem ou blefem sobre seus interesses. Fica a critério do grupo adotar isso ou não. Personagens não recrutados passam para cima das cartas com as gemas e terão uma segunda chance de convocação na próxima rodada. Colocam-se os próximos quatro personagens daquele baralho maior com 48 cartas e estamos prontos para desenvolver nossa pirâmide.

Componentes da versão russa
Até três cartas podem ser desenvolvidas por rodada, uma de cada vez. Cada jogador escolhe uma carta, de Personagem ou de Lei, deixa-a virada para baixo e, do mesmo modo do que no início da partida, todos os jogadores revelam suas cartas e as desenvolvem na sequência crescente dos números. Isso é importante, pois conforme o nível da pirâmide no qual os jogadores coloquem suas cartas, o jogador da vez poderá achar mais vantagem colocar a sua neste ou naquele nível.
Segue-se deste modo por doze rodadas, número que corresponde aos 48 personagens sendo revelados quatro por vez. São vários os tokens utilizados durante a partida, todos com repercussão na pontuação, primordialmente. São sete os critérios de avaliação final, por isso não entrei em detalhes sobre cada um.
Considerações Finais:
Retomarei o que disse no segundo parágrafo, Viceroy é um jogo abstrato. Não deixe a arte fenomenal confundir você. É importante frisar isto, pois muitas pessoas não gostam de jogos mais abstratos. Bom, todos são, mas isto é assunto para um artigo da seção Analysis Paralysis. Como o público que não gosta deSplendor (confira nosso review aqui) por este motivo é grande, comecei estas considerações iniciais com isso. Particularmente, adoro jogos abstratos que colocam uma roupagem (ou seria disfarce?) ficcional gigante. Penso em Abyss (confira nosso review aqui) como um outro grande exemplo recente disso. Splendornem tanto, pois a preocupação “temática” não exigiu a criação de um mundo próprio. Tudo bem que Viceroyé baseado no mundo criado pela mesma empresa para um jogo de cartas colecionáveis chamado Berserk, mas o esforço artístico é memorável.

Mecanicamente é um belo quebra-cabeça. Cada carta tem tanta coisa para você analisar. Primeiro, não basta pagar pela gema no leilão, a pergunta é: tenho como pagar pelo seu desenvolvimento? Compro uma carta pensando em fechar um círculo com a mesma cor agora ou coloco a carta pensando em fechar o círculo em nível maior usando esta como base? Em qual nível devo desenvolvê-la? Preciso de certo bônus, mas o custo para isso me deixará sem gemas que precisarei na próxima rodada. Gerenciamento e planejamento para o curto e médio prazos são essenciais.
Cada única carta promove esta análise toda e quando você analisa as cartas em oferta, as cartas de sua mão, de sua pirâmide e de seus adversários dá de sentir o cheiro dos neurônios queimando. São muitas as estratégias para a vitória, com as mesmas cartas sendo utilizadas de maneiras diferentes a cada partida. Além disso, nem todos os personagens aparecerão, os que sobraram dos 48 só surgirão conforme foram utilizados os bônus das cartas, os quais você acabou de saber, nem sempre serão os mesmos, pois serão colocados em níveis diferentes da pirâmide.
Componentes da versão russa
Alguns jogos provocam uma coceira mental e uma vontade de jogar uma partida logo após a outra. Viceroy é um desses e seu tempo curto de duração permitirá isso. Um abstrato muito mais estratégico do que seus similares recentes, com arte fenomenal e possibilidades infinitas.
Pontos positivos:
– Muitas e muitas escolhas e possibilidades
– Arte fenomenal
– Fácil de ensinar e jogar
– Inúmeras estratégias e possibilidades com uma mesma carta
– Viciante
Pontos negativos:
– Apesar do background e artes é um jogo abstrato
– As cartas de lei podem desbalancear algumas partidas
– Ligação fraca entre o nome das cartas e o que oferecem