Publicado originalmente no site Flynns.
Eu tinha achado que não cabia aqui na
Ludopedia compartilhar essa resenha, mas recentemente reli esse texto que gostei um bocado sobre um livro inspirador para aqueles que trabalham com arte (e por que não com jogos) e decidi que ele tinha seu espaço pelo menos no fórum Fora da Redoma. Além disso, não estaríamos falando de
Amanda Palmer sem falar de
financiamento coletivo, ferramenta tão conhecida no nosso hobby, e de
Neil Gaiman (
A Study in Emerald).
Ganhei há algum tempo o livro
A Arte de Pedir (2015, Editora Intrínseca, 304 pgs.), de
Amanda Palmer, de presente do amigo Leonardo Alegre, com o qual tenho o prazer de trabalhar dentro do Além do Muro. A obra prometia ser uma inspiração para o desenvolvimento de nossos projetos artísticos e, não hesito em dizer, cumpriu com as expectativas.
O livro tem leitura fácil e em muitos momentos você pode sentir que está batendo um papo de verdade com a autora. A principal mensagem é sobre a superação do desafio pessoal, enfrentado por muitos, de serem pessoas melhores em dar do que receber. Essa leitura me ajudou a conhecer mais sobre essa mulher que, até então, eu conhecia apenas como a esposa do talentoso Neil Gaiman, autor do consagrado Sandman, do qual você pode conferir algo de seu trabalho nos textos do próprio Leonardo Alegre,
neste e
neste links.
Com certeza podemos chamar este título de uma auto-biografia, ainda que centrada em momentos que auxiliem a interlocutora na passagem de sua mensagem principal. Acompanhamos Amanda em seus primeiros anos como uma artista anônima que abandona a faculdade para se tornar estátua viva. Ao falar sobre aturar ofensas e preconceito de uns e outros que a mandavam ir procurar um emprego de verdade, suscita o debate sobre o que é considerado trabalhar e o que a sociedade considera como um trabalho digno.
“Era essencial sentir gratidão pelos poucos que paravam para assistir ao ouvir, em vez de desperdiçar energia me ressentindo com a maioria que seguia em frente.”
– A Arte de Pedir, pg. 43
A partir de sua busca por manter-se com o dinheiro de sua arte, Amanda encontra sua paixão na música e passa a viver em meio a uma comunidade de artistas que, como ela, queriam exercer seus sonhos em liberdade. Liberdade essa que futuramente seria extrapolada num sentimento de confiança e entrega que ficaram cada vez mais evidentes em sua vida. Talvez um dos melhores exemplos de até onde Amanda estava disposta a chegar para cativar seu público esteja na famosa ocasião em que, nua, se deixou ser rabiscada pelos fãs munidos de canetas coloridas.
A repercussão de tais atitudes vai muito além de um tímido fã que lhe entregou algumas notas pessoalmente em uma fila de autógrafos, dizendo que o fez assim pois sabia que ela não gostava de sua gravadora e preferia pagar a ela diretamente pela sua música. Seu CD, Theatre is Evil, foi lançado via
Kickstarter e arrecadou mais de um milhão de dólares, se tornando um marco na plataforma e atraindo olhares para a musicista, culminando em seu convite para apresentação no TED Talks, que você pode conferir
neste link, através do qual ouvi falar dela pela primeira vez. E a palestra, consequentemente, deu origem ao livro que talvez você tenha em mãos nesse momento ou esteja considerando comprar.
“Tive um pequeno vislumbre do ato de escrever alguma coisa como uma válvula de escape muito prática e direta para a dor. (…) Senti pela primeira vez a verdade física do que é se entregar ao ato de criação como uma via de escape de uma realidade insuportável.”
– A Arte de Pedir, pg. 231
Fã declarada das plataformas de financiamento coletivo, era de se esperar que ela consolidasse isso como parte de seu estilo de vida. A artista possui uma conta no site
Patreon onde recebe 35.000 dólares de seus padrinhos – pessoas que a financiam continuamente – por coisas que lança ocasionalmente, como novas músicas ou trabalhos artísticos diversos.
Talvez vocês até já conhecessem todos os fatos acima sobre a vida dessa mulher, mas será através desse livro que você vai conhecer mais profundamente a vida bem humana e desafios comuns a qualquer um de nós que ela enfrentou em sua jornada. Doença de entes queridos, gravidez, o desafio em se aceitar dinheiro do marido milionário e famoso…
“Todo mundo está dando um jeitinho de alguma maneira, disso podemos ter certeza. Tanto no mundo da arte quanto no mundo dos negócios, a diferença entre amadores e profissionais é simples: Os profissionais sabem que estão dando um jeitinho. Os amadores fingem que não.”
– A Arte de Pedir, pg. 47
Recomendo a leitura para todos aqueles que sonham em viver de sua arte, desde escritores a designer de jogos, mas até mesmo do ponto de vista empreendedor ele é uma boa pedida. Motivacional sem ser piegas, temos aqui um relato honesto e palpável de alguém que viu o melhor e o pior do ser humano em sua vida, e quer mostrar para nós que ainda é possível acreditar nas pessoas se você estiver disposto a se entregar.